quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Pequena observação sobre os nomes


Nomes. Taí um assunto que tendemos a subestimar por ser muito natural  - instintivo, básico de mais, mesmo - sem nos darmos conta do quão fundamental ele, o ato de nomear, é em nossas vidas.

Sempre precisaremos das palavras, ainda mais se nos deparamos com algo novo, que nos é completamente estranho. A necessidade de definir,  de classificar, está em tudo. Ainda que não nos demos conta. Acho que é por isso que nesse tempinho em que estive mergulhando no mundo da viela de roda, o que mais ouvi - com exceção dos comentários a cerca de seu formato, som e excentricidade - foi mas como se chama esse instrumento? Eu sei que isso soa como um tópico não muito útil, mas meu interesse por linguística (e por nomes, diga-se de passagem) fala muito alto em mim. E a verdade é que todo assunto relacionado à viela em português é válido para os interessados nela e para meu humilde blog.

A maioria das pessoas que conhecem o instrumento aqui pelo Brasil, o fizeram através de bandas internacionais, das quais a estupidamente grande maioria trabalha em inglês. Consequentemente, é o nome hurdy-gurdy aquele mais conhecido entre amantes do instrumento. Esse nome - de origem supostamente onomatopaica e um tanto pejorativa - só aumenta a aura de excentricidade em torno do instrumento. 

O que a grande maioria das pessoas não sabe, contudo, é que a língua portuguesa tem sim um nome para o gurdy, e este nome é a viela de roda.

- Viola de roda?

- Não, ViEla de roda. Isso mesmo.

No bom e velho português do Brasil, este é o nome que utilizamos para este objeto estranho e fascinante.  Em Portugal, além deste termo, também utiliza-se sanfona, enquanto que na Galícia e na Espanha (aí sim) encontraremos os nomes (s)zanfona e viola de roda. Eu bem sei que isso gera uma certa confusão, mas entendam que o nome viela de roda é provavelmente uma tradução direta do francês vielle à roue, o que traz um pouco mais de sentido para essa história. Ainda assim, é estranho pensar que justo o nome utilizado na França (que vejam bem, não é o país mais "próximo" de nós em que a tradição da viela sobreviveu quase praticamente intacta) chegou ao Brasil. Na verdade o nome viela de roda soa mais como um híbrido entre vielle à roue e viola de roda, o que também é bem interessante.

Em italiano, língua em que absolutamente tudo é muito sonoro e musical, a viela de roda é conhecida como la ghironda, um dos termos mais poéticos, na minha opinião. Os termos mais esdrúxulos começam "do alemão pra lá", então a partir de drehleier (utilizado tanto em alemão como no holandês), encontramos nomes ainda menos comuns para nós, como o tekerölant dos húngaros, a lyra russa e a relia ucraniana.

O que é interessante de se observar é que esses nomes não são tão fixos assim, então podemos ver muita gente se referindo ao instrumento como huryd-gurdy, vielle ou sanfona independente do país em que se encontrem. Já vi inclusive um rapaz sueco utilizar o nome lira, mas levando em conta que em sueco o nome dado ao instrumento é vevlira, acho que faz sentido. Pensando bem sobre isso, eu diria que não vejo essa liberdade quando penso no tekerölant, que tem um formato bem específico e tende a ser sempre chamado pelo seu nome de verdade.

Ao falar com falantes de português, eu particularmente tento utilizar sempre o nome em nossa língua. Acho tão sonoro e cheio de personalidade quanto os outros, e acho que ajuda a "consolidar" a figura do instrumento por aqui. Aliás, vale lembrar que alguns vielistas que passaram por aqui apelidaram a viela de rabeca de roda, outra possibilidade que eu amei e que torna o instrumento muito mais nosso, de certa maneira.

Besteira ou não, nomes são mais importantes do que pensamos. Então, me diga, qual é o seu favorito?
Viela ou rabeca de roda?

;-)

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

No Brasil esta semana: Germán Diaz


Para quem não lembra, escrevi sobre este talentoso vielista espanhol há alguns meses, falando do superespetáculo em que Germán utiliza não só a viela de roda, mas instrumentos de manivela em geral. Bem,  esta é uma oportunidade única para nós brasileiros, pois neste momento ele se encontra exatamente aqui.

O espetáculo em questão é o PI, sobre o qual vocês podem saber mais neste vídeo: 


As apresentações, que fazem parte do Mercado Cultural da Bahia, ocorrem em SalvadorSão Paulo e Curitiba. É uma oportunidade fantástica para os amigos músicos (princopalmente vielistas!), aspirantes ou apenas amantes da boa música e dos instrumentos raros.

É muito bom saber que um verdadeiro ícone desse nosso pequeno mundo vielístico está em nossas terras divulgando esse instrumento maravilhoso. Espero que o Germán aproveite muito sua estadia no Brasil e encante muita gente com a sensibilidade ímpar de seu trabalho.

Até logo, com mais novidades!

Rique

;-)