quarta-feira, 1 de maio de 2013

No Shuffle


A adrenalina correndo nas veias já é uma velha conhecida minha, mesmo me surpreendendo todas as noites como se fosse a primeira vez. Dessa vez, entretanto, tudo era diferente. Nós estávamos em uma roda, de mãos dadas, minutos antes de encarar o público. O frio na barriga daquela noite tinha um tempero diferente: estávamos fazendo teatro.

Um tempinho lá atrás, se alguém me perguntasse uma situação em que eu não me imaginaria, eu responderia que dificilmente me veria tocando num musical. Melhor ainda, eu não me imaginaria tocando viela de roda numa situação dessas, ou levando a coisa para um nível maior de especificidade, diria que dificilmente me imaginaria tocando viela de roda num musical/comédia romântica em que eu precisasse usar orelhas de coelho. Pois é. Life has a funny, funny way.

É esta a razão pela qual eu tenho demorado tanto a postar, na verdade. Conciliar minha participação na banda do musical com os projetos do Café Irlanda e minhas outras coisas tem sido deliciosamente cansativo. Deveria ter sido óbvio que após me levar a Gales por um dia e me lançar na França por um mês a viela me levaria a territórios desconhecidos dentro da minha própria terra.

O espetáculo se trata de uma comédia dramática musical que tem sua história  parcialmente narrada por versões em português de algumas músicas do The Magnetic Fields, uma banda cujo vocalista/compositor é um homem completamente aberto à experimentação e sonoridades diferentes, proposta que fez eu e minha Lyanna sermos convidados a embarcar no projeto. #WeirdoPride

O mundo do teatro é um completo e desconhecido universo para mim. As marcações, as luzes, as técnicas, os costumes e orações antes de entrarmos no palco... A experiência não poderia ser mais assustadora. É estranho segurar meu violino e não ver nenhum dos meninos do Café por perto. Ainda assim, ao mesmo tempo que essa vivência é assustadora ela não poderia ser mais enriquecedora - como toda jornada artística (ou não) que nos conduz ao auto-conhecimento. Fui convidado por conta da viela de roda, sempre nova aos olhos de todos, mas nem sempre bem aceita, como pude comprovar nos olhos de um senhor numa das noites de espetáculo - este virava para trás toda vez em que eu tocava uma nota no instrumento. Mas aprendi muito sobre mim mesmo e meu violino também, já que o Pablo (diretor musical com um vozeirão LINDO) me deixou bem à vontade em minhas frases e isso, ao contrário do que possa parecer, é também um desafio.

Por fim, este post não é apenas uma explicação sobre meu sumiço do blog, mas também um grande obrigado às pessoas envolvidas no espetáculo. Hoje, caminhando para a terceira semana em cartaz, eu ainda preciso me vigiar para não me perder ao assistir a peça em vez de fazer parte dela. Ver pessoas tão talentosas e especiais fazendo o que amam na minha frente me inspira cada vez mais. Não há crítica boa que supere esse sentimento, nem crítica ruim que o diminua (e isso serve especialmente à gentil senhora que, para uma crítica do mundo das artes, soa mais como uma grande parede de concreto, encorpando preconceitos óbvios e uma estupidez sem tato algum).

Estar no meio dessas pessoas é um privilégio que só concretiza mais a vontade primeira que me move nesse mundo. Obrigado aqueles que antes mesmo de me ouvirem tocar já se mostram abertos e receptivos ao que tenho a oferecer. Obrigado aos que ouvem minha viela e mesmo não amando de primeira, se interessam e dão uma chance. Agradeço também àqueles que entendem do assunto e me apoiam e me encorajam a seguir em frente; e àqueles que reconhecem o que não é sua praia e ficam quietinhos porque não tem nada de bom para acrescentar.

Volto em breve com uma história interessante sobre um verdadeiro pioneiro no mundo vielístico brasileiro.

Em cartaz até dia 12, no Sesc Copacabana