sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Dois anos.



Dublin. Há dois anos nessa mesma hora eu estava saindo de um avião de papelão, correndo para o albergue encontrar os meninos da banda para finamente dizer "sobrevivi". Primeiro eu achei que me pegariam no avião saindo de Gales, por conta do case não caber no compartimento de bagagens. Depois pensei que o avião cairia (o que teria sido ironicamente romântico e doentio - e eu sempre acho que o avião vai cair, anyway), depois pensei que seria pego na alfândega irlandesa... mas não. Eu estava dormente de tudo que eu estava vivendo aquele dia, que na verdade durou dois anos.

Perdido e madrugando num canto qualquer da França
Dublin, Merthyr Tydfill, Bourges, Carcassonne, Rio de Janeiro... Eu já vi tanta coisa em tão pouco tempo; e nem se trata de me gabar (só deus sabe como eu vivo em função dessas pequenas grandes viajens), e muito menos se trata apenas de ter um espírito viajante. Eu só fiquei assim por uma única razão: a viela de roda.

Eu nunca pensei que um dia seria um vielista - muito menos que esse instrumento traria tanta coisa boa para minha vida. Para ser sincero, não consigo lembrar muito bem de como eu simplesmente decidi que seria isso. Parece que nunca aconteceu, que ela sempre esteve ali. É estranho você passar tanto tempo desejando algo e depois ter esse algo tão incorporado em sua vida dessa forma.

Eu e Chris Allen na minha primeira aula - Merthyr Tydfill - Gales
A viela de roda cruzou o meu caminho quando eu menos esperava; E bem... embora tenha me raptado - ou como dizem por aí, abduzido - fez eu me sentir em casa, mesmo me levando a lugares tão distantes.

Esses dois anos que se passaram já me trouxeram tantas coisas boas através da viela que eu nem sei direito o que escrever. Fiz amigos maravilhosos, conheci lugares fantásticos, aprendi bastante coisa sobre música, sobre pessoas - sobre mim - e percebi que ainda tenho um UNIVERSO de coisas para aprende - coisa que graças aos bom deuses, só me anima cada vez mais para seguir em frente. Mais que tudo isso, a viela de roda me fez ver que sonho de verdade é aquele que faz você correr o mundo para viver e alcançar o que se quer, levando o tempo que tiver que levar.

Ben Grossman e Brian Hughs
E essa semana comemorei meus dois anos de viela de roda em grande estilo, no show da Loreena McKennitt - exatos dois anos do dia em que embarquei para a Irlanda - aqui no Rio de Janeiro. E como se ter esse instrumento na minha vida já não fosse sonho suficiente virando realidade, comemorar a data nessa ocasião foi perfeito. Ainda mais tendo entrado em contato com o Ben Grossman, atual vielista da banda da Loreena, que foi simplesmente fantástico; e tentou me encontrar mais ou menos quatro vezes durante sua curta estadia aqui no Rio, e inclusive pediu para eu levar minha viela ao show para que ele me desse uma quick lesson. Como nem tudo é perfeito, atrasos ocorreram e tudo que consegui foi um curto papo com ele no intervalo entre os dois sets - o que foi muito legal.

Eu poderia gastar horas e horas para falar sobre tudo que ocorreu desde que encontrei a viela, mas não vou fazer isso simplesmente porque dessas coisas, vocês, que são meus amigos, sabem muito bem. Pretendo apenas agradecer a força que vocês me dão, seja movimentando nosso grupo de vielas no facebook, seja lendo isso aqui vez ou outra, ou apenas fazendo sua parte e alimentando a curiosidade dos brasileiros para esse instrumento fantástico. É fantástico ver como as coisas mudam e como eu passei de "segundo vielista" depois do Augusto para apenas mais um no meio de uma galerinha que vem crescendo, buscando e até mesmo construindo instrumentos. Isso é lindo.

Que vocês possam viver toda a felicidade que tenho vivido desde aquela tarde em Gales, e que a viela seja para vocês o que foi e tem sido para mim: de um objetivo final se tornar a porta de entrada mais épica que vocês poderiam cruzar.

Obrigado e vielisticamente,

Rique e Lyanna

Café Irlanda - Circo Voador