domingo, 1 de outubro de 2017

Bardow Folk - Brasília


Dando continuidade aos posts sobre novos artistas brasileiros que incorporam a viela em seus trabalhos, hoje dou voz ao Bardow Folk, projeto nascido e criado em Brasília, idealizado pelo Weivson Andrade, que foi mais que gentil em me falar sobre seu projeto tão detalhadamente que nem me dei o trabalho de escrever. simplesmente compartilhando suas palavras abaixo.



"O Bardow é um projeto musical onde misturo diferentes segmentos artísticos com o objetivo de contar histórias. Sempre tive fascínio por História, culturas antigas, por literatura, por artes plásticas, fotografia, cinema e música. O projeto é a culminância de tudo isso dentro de um contexto onde procuro inserir o público, afim de entregar a cada um uma experiência que vá além da música em si.

Tive o privilégio de morar e estudar na Irlanda, lugar pelo qual sempre fui atraído e fascinado. Estudei gaita de foles com um músico de um pub onde trabalhei, sou apaixonado pela música tradicional irlandesa. Revezava meu tempo entre o trabalho, o curso de cinema que fiz lá e as aulas de gaita. No caminho entre um compromisso e outro conheci um músico de rua que me apresentou o hurdy-gurdy. O curioso é que meses antes eu havia passado por uma experiência intrigante, mas preciso abrir um parêntese aqui para que isso seja compreendido. Quando mais jovem em um de meus delírios adolescentes em criar algo "completamente novo e extraordinário" eu imaginei e desenhei o projeto de um instrumento semelhante a um violino, mas que fosse mais simples de tocar e que o som fosse contínuo, talvez originado em uma roda ao invés do arco. Então eu desenhei algo que se parecia com a antiga máquina de costura da minha avó, cuja força motora era um dispositivo acionado pelo pé, que girava uma roda através de uma polia. Basicamente era um projeto inexequível, mas sempre tive isso na cabeça. Voltando à experiência, fiz uma viagem à Saint Malo na Normandia e me deparei pela primeira vez com o hurdy-gurdy. Foi um choque ver aquele instrumento, primeiro porque tive aquela sensação de que diabos é isso? misturado com a excitação de ver que como aquilo funcionava e um estranho sentimento de já conhecer aquele objeto. Não consegui falar com o instrumentista pois ele só falava francês e eu não entendi uma vírgula do que disse. Bem, quando então na rua Grafton em Dublin eu tive acesso à um hurdy-gurdy e consegui me comunicar com o instrumentista, foi amor à primeira vista. Passei a trocar tempo com o instrumento, e algumas dicas e porque não dizer aulas do instrumentista, por um bom papo, café, muffins e as vezes refeições completas que fazíamos no Stephen's Green Park que ficava perto dali. Aos poucos fui me habituando com o instrumento e desenvolvi uma paixão inexplicável. Aos poucos também fui perdendo contato com o instrumentista até que voltei ao Brasil. A ideia para o criar o Projeto Bardow já estava na mente, mas o acesso à instrumentos de qualidade aqui era quase inexistente. Acabei por gastar muito do meu tempo enquanto músico na cena Rock n Roll de Brasília que é bem movimentada, mas era tudo o que eu podia fazer enquanto músico. Quando então em meados de 2016 uma amiga americana disse que havia me enviado um presente. Ela sabia da minha paixão pelo instrumento. Ela não conhece absolutamente nada sobre o instrumento apenas viu um e resolveu me presentear. Quando descobri o que ela havia postado fiquei feliz pela atitude mas triste por saber que um bom instrumento estaria muito além do que alguém como ela gastaria para presentear alguém como eu. Mas esperei ansioso pela chegada. Quando chegou minhas expectativas sobre a qualidade do instrumento se confirmaram. Era rústico, despretensioso, e faltou muito carinho no acabamento. Ele ficou parado algumas semanas, não consegui tirar qualquer som perto de algo que não fosse no mínimo irritante. Daí resolvi criar coragem de arriscar destruí-lo tentando deixa-lo ao menos funcional. E deu certo! Desmontei, tratei a madeira, mudei as cordas, desempenei a roda, ajustei as tangentes montei e consegui que ele desse um som quase satisfatório. Sobrava harmônicos ainda, mas consegui amenizar com as cordas de tripa e um algodão mais espesso. Pronto, era o que eu tinha em mãos para começar a colocar o projeto em prática, e desde então tento tocar o Bardow com o que tenho. Sonho em ter condições, em algum momento, de comprar um bom instrumento. Até lá vou me virando. Namorei por meses a viela da Raine Holtz quando ela anunciou... mas um dia chego lá!"

Muitíssimo obrigado ao Weivson, que história fantástica. Muita sorte e sucesso! E viela de roda, é claro. =)