sexta-feira, 27 de abril de 2012

A Saga da Viela - Parte I

Ukranian Lyrnic - M. Vrubel


Hm...

Não sei bem a quem toda essa história pessoal pode interessar. O fato é que tudo o que envolve o instrumento em questão (principalmente o meu) tem um grande valor para mim. Já estou há um bom tempo querendo registrar tudo isso que me aconteceu, então, (in) felizmente estes primeiros posts serão destinados a minha história com o instrumento. Como cheguei a ele, como decidi buscar (e de fato busquei) o meu, num processo que levou anos, literalmente. 

Depois de cobrir esta parte é que eu pretendo postar dicas, videos, links interessantes e  tentar, da forma mais humilde possível, esboçar alguma tentativa de registrar a história do hurdy-gurdy aqui no Brasil. 

Então:

Parei em... 2006? Sim. Isso.

Bem, após finalmente ver o que produzia aquele som tão específico, eu provavelmente - não lembro tão bem, mas acredito nisso - ensaiei procurar algo sobre a viela na internet. Não deve ter demorado muito para eu perceber que, como sou brasileiro e moro no Brasil, o google estava jogando na minha cara que ninguém ("NINGUÉM, HENRIQUE!") tocava esse treco por aqui. 

É um pensamento bem ingênuo (ou pelo menos era, na época) o de achar que alguém fabricaria estas beldades por aqui. Acho que na época eu estava decidindo não me afastar do violino (essa história não cabe aqui) e isso acabou tomando muito mais espaço na minha mente. O tempo passou, a minha banda seguiu e o violino ganhou muito mais espaço na minha vida. Sem eu perceber que isso era possível, as coisas começam a ficar mais "folk". Foi em 2007/2008, quando eu começo a adotar o costume de entrar num fórum de música folk para baixar CD's que não encontraria por nada. que as coisas começaram a tomar forma definida. A penúltima vez em que acessei tal fórum, peguei o que tinha que pegar e sumi de lá por um ano, quando tudo mudou de verdade. O que eu preciso deixar claro, no momento, é que foi uma das minhas bandas (a de Irish trad.) que me deu forças (em todos os sentidos) para ir atrás disso. Então eu não poderia jamais contar esta história sem explicar como, morando não só no Rio de Janeiro, mas na Ilha do Governador (rs) eu consegui tocar nesta banda e, consequentemente, vir a ter a possibilidade de ter/estudar viela de roda.

Depois de morar por 11 anos em uma casa relativamente grande, eu e minha família estávamos de mudança para um apartamento.  Eu terminava os retoques finais do meu quarto quando resolvi abrir o computador e testar meus logins e a internet daqui. Um dos primeiros sites que visitei naquela ocasião foi o tal fórum de música folk porque, veja bem, eu estava num momento muito legal no meu conservatório. As ideias, os trabalhos... Tudo me estimulava. A inspiração de buscar as fontes que me agradavam era gigantesca. Acessei o site e, para minha surpresa, eu já estava logado. Estranhei, porque não lembrava de ter configurado meu login para ficar na memória.

Um pouco por reflexo, um tanto por intuição, resolvi testar a página inicial, em que membros deixavam mensagens aleatórias, numa espécie de chat. Minhas palavras exatas foram "Galera, ninguém está afim de montar uma banda folk, não?". Eu devia estar ouvindo alguma banda irlandesa para ter postado isso de forma tão espontânea. Não esperava muito, aparentemente. Ainda assim, ao chegar em casa no fim da tarde, corri para ver se havia alguma resposta e pasmem, havia. Um dos moderadores havia respondido dizendo que ele estava interessado (junto com outras pessoas, aparentemente) mas que os violinistas que ele  conhecia nunca eram do Rio. Eu, em minha singela vontade de gritar "EU SOU DO RIO, TEMOS UMA BANDA, ME ABRAÇA.", apenas respondi tranquilamente que né, eu era do Rio. Trocamos telefones, acertamos um horário e voilá: no dia seguinte eu tinha minha banda de folk irlandês.

Daí pra frente é tudo alegria. Mentira. Daí pra frente é tudo muita alegria e dois anos de aflição, de espera, de desejo e de medo de uma frustração que, se tornando realidade, poderia levar uma vida para ser sanada. 

More on this later. ;-)

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Como tudo começou antes de começar de verdade


Calling, yearning, pulling... Home to you - A sensação que eu tenho é que eu sempre fui carregado por ventos favoráveis. Me considero muito sortudo, talvez abençoado. O fato é que minha vida musical não é fácil de ser descrita devido às minhas escolhas, que sempre, direta ou indiretamente, me levaram a outros mundos (e sim, eu digo isso quase no sentido literal).

Tudo sempre ocorreu e vem ocorrendo num movimento de uma-coisa-que-puxa-outra tão complexo e tão lindo que fica realmente difícil marcar o ponto exato em que certas coisas entraram em cena. Eu não posso dizer que um belo dia, enquanto eu estava jogado no sofá de minha sala, ouvi um hurdy-gurdy na televisão e pensei "A-ha!". Na verdade eu já ouvia o instrumento há um bom tempo, principalmente no repertório galego. E eu, como muitos, sempre caía no lugar comum (literalmente comum, e nem digo isso de uma forma pejorativa) de inferir que o que eu ouvia era "apenas" uma gaita de foles em uníssono com um violino. Às vezes eu arriscava pensar que se tratava até mesmo com uma nyckelharpa, instrumento com o qual eu já era familiarizado devido ao som de "clec-clec" produzido pelo ataque de suas teclas nas cordas. De qualquer forma, ambas as teorias eram equivocadas e não demorou muito para que o choque de me deparar com um instrumento desconhecido fosse recebido por mim como o tapa na cara mais bem-vindo na história do mundo.

Foi em 2006, quando eu já tovaca na Lagrima Flor e ia muito-bem-obrigado no rumo que eu e meu violino estávamos tomando, que eu comprei o DVD da Loreena McKennitt (Nights from the Alhambra). Apesar de já saber que eu ficaria embasbacado (afinal, né? Loreena faz isso com as pessoas) eu me surpreendi de uma forma indescritível ao ver nossa amada viela de roda. Eu pude literalmente enxergar aqueles sons. Executando um solo absolutamente épico, Nigel Eaton (um dos maiores virtuosos do instrumento no mundo) me fez não só amar aquilo, mas encontrar aqueles sons dentro de mim e querer cuspi-los, externalizá-los de alguma forma. É uma sensação bem estranha. Só ouvir não é suficiente. É como um vício, uma vontade absurda que você aparentemente sempre teve e nunca pôde saciar. Algo que até hoje eu não sei descrever muito bem - e por isso mesmo quando alguém se refere ao "feitiço" do hurdy-gurdy eu não acho brega. Eu senti na pele e decidi instintivamente: um dia um daqueles seria meu.

Foi o primeiro golpe na manivela da história mais épica da minha vida.


quarta-feira, 25 de abril de 2012

Girando a Roda

         Portico de la Gloria. c.1188
       Catedral de Santiago de Compostela

Daí que em algum momento por volta do século IX alguém começou toda essa novela com o organistrum só para eu (e sem dúvida, uma galera) morrer numa grana séculos e mais séculos depois. Sim, por causa desta invenção, provavelmente sem grande importância para muitos de sua época, estes instrumentos vieram a existir e mudaram e vem mudando constantemente milhares de vidas por todo o mundo. Eu fui uma de suas vítimas e este blog é apenas mais um dos infinitos impactos que o hurdy-gurdy (ou viela de roda) teve em minha vida desde que fui literalmente abduzido ou... enfeitiçado, por ele. Além disso, estava na hora de alguma fonte concreta existir para todos aqueles brasileiros que buscam conhecer mais sobre o instrumento dentro e fora do Brasil.

More on this later.