sexta-feira, 19 de julho de 2013

No Brasil: Terra Celta e a viela de Edgar Nakandakari


Todo mundo que lê isso aqui sabe que eu faço parte de uma banda de música irlandesa e provavelmente também imagina que esse tipo de banda por aqui, apesar de existirem num número maior do que imaginamos, ainda são poucas.

Uma das mais bandas mais antigas nesse estilo no Brasil é a fantástica Terra Celta, de Londrina - uma verdadeira e absurda fanfarra de vestimentas e instrumentos exóticos, que traz uma festa musical em canções divertidas, passando por alguns ritmos brasileiros e pela tradição de países de origem celta. Eu nunca tive a oportunidade de vê-los ao vivo, o que é uma pena, mas sei o quanto eles bombam não só pelo Paraná, mas em outros estados também.

Élcio Oliveira e sua Nyckelharpa
Antes de mais nada, vale lembrar que o Terra Celta já contava com um diferencial maneiríssimo, que é a nickelharpa (instrumento folk sueco) tocada pelo também fiddler e vocalista da banda, Élcio Oliveira. Aliás, se nós vielistas sentimos na pele o fato de sermos uma minoria, eu mal imagino como o Élcio não se sente sendo (até onde sei) o único nyckelharpista (?) do país.

Mas vamos ao que interessa: há pouco tempo o Terra Celta começou a integrar entre seus exóticos instrumentos a nossa querida viela de roda, comandada pelo Edgar Nakandakari, que também enriquece o som da banda com instrumentos absolutamente inesperados como o banjo, o clarinete e o bandolim; e também com os mais "comuns", como a tin whistle e a gaita de fole (!)

Viela de Roda em ação
Apesar de ter entrado em contato com a viela pela primeira vez em 2001/2002 assistindo à uma apresentação do grupo Neuma de música antiga, foi em 2010 que Edgar realmente caiu de amores pelo instrumento, ao assistir a um show da fantástica Blowzabella no festival de Saint Chartier (verdadeiro paraíso musical que reúne luthiers, músicos profissionais, estudantes, aspirantes e amantes da música folk/tradicional).

Viela Maestro, por Mel Dorries - EUA
                                                                        Em St. Chartier Edgar teve a oportunidade de testar uma viela de roda e achou  - e fez bem - que valia a pena se aventurar no instrumento. Após algumas pesquisas Edgar finalmente decidiu adquirir uma viela americana construída por Mel Dorries (mesmo luthier do Raine Holtz), optando pelo modelo Maestro -  uma viela  alto - por ser mais grave. Para sua sorte, Mel mora há poucos quilômetros de uma prima sua, então as coisas ficaram mais fáceis e mais uma dessas belezinhas pôde despencar aqui para o Brasil depois de mais ou menos um ano.

Mais uma viela que chega para ficar, certo? Eu particularmente fico muito contente em saber que uma banda que já é grande nesse pequeno cenário esteja fazendo esse trabalho lindo de divulgar instrumentos tão raros por aqui. Tenho certeza que a banda (e principalmente o público) só tem a ganhar com trabalhos assim. 

Atualmente Edgar foca em construir um repertório que consiste em  danças tradicionais como valsas, bourrées, schottishes etc; e que inclui também, naturalmente, as composições de sua banda. Eu tive a oportunidade de ouvir uma dessas composições, a faixa Intitulada Era Uma Vez, que trata dos contos de fadas na atualidade e traz o Terra Celta na sua vibe única, contando com a viela do Edgar. O trabalho deles é realmente fantástico. E o Edgar está de parabéns por sua versatilidade musical.

O Terra Celta se apresenta regularmente, então vale muito a pena ficar de olho na agenda da banda. 

Não demoro a voltar para apresentar mais um vielista brasileiro, então não sumam. ;-)

Vielisticamente,


quarta-feira, 17 de julho de 2013

Vielista


Desde que eu comecei nessa estrada tão incomum da viela de roda as pessoas vivem me perguntando se eu prefiro a viela ou o violino. Eu sempre digo que para mim é tudo música, e cada instrumento, à sua forma, uma parte continental de mim. São meus braços e minha voz. 

Partindo para um lado mais dramático, essa questão sempre me assombrou um pouco. Primeiro porque a resposta sempre foi muito clara para mim, segundo porque ela sempre soou, sim, errada de certa forma. Não se pode escolher entre dois braços, certo? - Errado. Nós sempre teremos um braço direito. Ontem eu aceitei isso.

Eu sempre penso num incêndio; no desespero de pegar o que mais importa e fugir, de poupar aquilo que significa mais para mim - e sim, quando esse filme passa pela minha mente eu sempre pego o estojo da viela antes de qualquer coisa. Isso soa tão infantil, mas eu sempre deixei essa história de lado, porque nunca precisei confrontar essa preferência de verdade. Eu toco numa banda de música irlandesa que eu amo de uma forma que não cabe em palavras. Eu cheguei a essa banda através do violino, e através do gosto iniciado e encorajado pelo mesmo, cheguei à viela e tenho vivido coisas maravilhosas - o que me torna uma espécie de traidor ao preferir cegamente a viela ao meu bom e velho violino, companheiro de tantos anos through thick and thin. O fato é que eu nunca deixei de amar o violino, e eu me sinto absolutamente feliz toda vez em que pego o píseog ou o trevo, seja para ensaiar, para compor ou (e principalmente) para tocar num show. Eu não sei se vivo sem eles - lembro que um mês na França sem ambos me deixou quase maluco... Mas sei lá. Há coisas e pessoas que chegam com uma força que não dá para medir, você só sabe que é pra sempre. Mais pra sempre que outras coisas. 

Nunca precisei lidar com essa escolha ou verbalizar isso. Não é como se eu fosse parar de tocar violino, nada disso vai mudar.  A questão é que nunca enfrentei minhas preferências até sentir, pela primeira vez, a vontade de ter uma tattoo que representasse quem eu sou musicalmente, que retratasse parte de mim sem vergonhas ou remorsos. Acho que depois de ontem minha preferência está muito clara e é pra sempre.

E eu nunca mais vou precisar responder tal pergunta, pelo menos não depois de explicar que o que carrego no antebraço pro resto da vida não é uma maçaneta qualquer.

Vielisticamente,

Rique

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Shows, gravação do EP e sim, novos vielistas à vista!

Foto por Davi Paladini
Ufa. Eu sei, eu sei. Praticamente anos sem postar, mas eu juro que isso é um bom sinal, porque significa que a vida está agitada, com muita coisa a se fazer e muitas novidades à vista.


Antes de mais nada, posso dizer que minha última apresentação com a viela foi um grande sucesso. O show do Café Irlanda no Circo Voador foi absurdo, graças ao público, que só de verem minha Lyanna já aplaudiram, antes mesmo de eu tocar. haha Muito bacana! Neste show, as músicas em que toquei a viela foram Shipping Up to Boston e o tema de Game of Thrones, ambas funcionam muito bem com o instrumento.

Não vou ser repetitivo e focar nas caras e bocas que fazem ao verem o instrumento pela primeira vez, então apenas deixo registrado que foi uma noite muito especial, e que é um sonho realizado ter tocado meu gurdy para uma plateia tão especial.

Mas como todas as noites tem um fim, nosso show naquela sexta-feira (dia 14 de junho) também não foi eterno; e logo na segunda-feira lá estávamos nós entrando em estúdio para começarmos a gravação de nosso EP, finalmente! A experiência até agora tem sido incrível, e eu mal tive tempo de pensar muito sobre tudo porque eu simplesmente gravei tudo em um dia só. Ok que são apenas 4 faixas das quais apenas uma vai trazer minha viela, mas ainda assim, gravar é sempre um trabalho árduo. E mais, se violinos já são chatos para caralho complicados de se gravar, imaginem a viela de roda. Aliás, imaginem a seguinte cena: comecei a gravar uma sessão da música em que toco o trompette (espécie de percussão da própria viela), ao som da qual o técnico de som parou de gravar e avisou "opa, pera aí, deu ruim! Tem algo errado." - ahaha só me restou rir muito e lhe dizer que não, não havia dado ruim, pois aquele é mesmo o som de uma viela de roda em perfeito estado. Essa vida de alien musical...

No estúdio - Por Pedro Costa
Bem, pelejas travadas à parte, eu estou contando os segundos para ouvir esse EP pronto, especialmente a faixa com a viela, obviamente. Primeiro porque além de se tratar de uma canção absolutamente brasileira e linda, nós pudemos mesclar o triângulo e a viola caipira (gentilmente cedida pelo nosso amigo Aluízio Kanter, verdadeiro arsenal de instrumentos) a intrumentos como o bodhrán, a Irish flute e a tin whistle. E no meio dessa fusão estou eu com um instrumento que não tem nada de irlandês e muito menos de brasileiro. O resultado, por incrível que pareça, soa tão brasileiro quando um chorinho, ou tão irlandês quando uma reel rolando numa session. E isso é bom. Ao meu ver, as melhores misturas são assim, naturais. Não soam artificiais. E né, musica boa é música boa, independente da mistura de instrumentos que a tocam. Quero muito contar qual é a música, mas vou segurar meus dedos aqui, até porque quem nos conhece já deve imaginar qual faixa escolhemos e porque escolhemos e todo esse bla bla bla... Por hora, vamos aguardar. Eu estou tão ansioso quanto qualquer pessoa que não faz parte da banda. Ansiedade é meu segundo nome.

No mais, amigos, aviso que o próximo show do Café Irlanda roladia 20 de julho, sábado, no Bar do Turco, em Niterói; e que não demoro a atualizar o blog. Tenho mais novidades para contar, principalmente no que diz respeito ao número de vielistas brasileiros! Sim, nossa pequena comunidade está aumentando e já temos mais dois vielistas/vieleiros/rabequeiros de roda para nos acompanhar. Em breve trago um texto sobre o primeiro deles. 

Até logo e vielisticamente,

Rique  ;-)