terça-feira, 30 de dezembro de 2014

2014 - Um gatilho musical


2014 foi um ano que começou seriamente épico, tirando o me fôlego; mas terminou tranquilo como uma brisa. Isso é lindo.

Das ruelas da Basilea em meio as aulas com Tobie Miller às ruas da Lapa, passando pela serra de Petrópolis, pelo terreirão do samba - até por Curitiba, no maravilhoso encontro nacional de vielas de roda - e terminando em Niterói, no último show do Café Irlanda para 2014, eu e Lyanna tivemos um ano cheio. Não necessariamente cheio de desafios, mas de crescimento e difusão de nosso trabalho. Esse post é uma pequena retrospectiva dos momentos que marcaram meu ano ~vielístico~. E deixo aqui um forte abraço a cada um que fez parte dele.


Comecei 2014 como o aluno que sempre vou ser, amando descobrir tudo que posso sobre a viela de roda, tentando no meu próprio tempo avançar nesse instrumento tão instigante e intrigante. Essa paixão que só aumenta só foi mais alimentada pela Tobie e suas aulas sensacionais, pelos museus com aqueles tesouros. E pela visita inesperada ao fantástico atelier do Sebastian Hilsmann, em Kirchzarten, na Alemanha. Não me parecia que 2014 fosse reservar muito mais que isso para minha alma vieleira, mas... Ledo engano.

Os shows para o Café Irlanda foram vários. Casamentos, pubs, festas... Sempre com a viela perto de mim, sempre aprendendo a afinar cada vez mais rápido antes de uma música. Eu diria que esse foi o ano de aprender a lidar com afinação ao vivo, um verdadeiro desafio para alguém que tem um instrumento tão tradicional feito o meu. Aprendi a me portar melhor num palco com minha viela; e o melhor: aprendi a cantar. Poder tocar viela e cantar é uma das coisas mais lindas que pude fazer, é um sonho distante que chegou. Saber me portar num palco nessas condições é o tipo de coisa que a gente aprende uma vez só na vida, por isso sou grato.

Bom, mais alguns meses à frente e a bomba cai: Matthias Loibner passaria por Brasília e Curitiba esbanjando simpatia e musicalidade com sua viela de roda. Preso pelo trabalho no Rio, só pude curtir e ficar feliz pelos meus companheiros de roda e seus dias inesquecíveis ao lado desse verdadeiro mestre.

Tamanho foi o gás que essa visita inesperada deu em nossa inspiração que pouquíssimo tempo depois nosso filho brasileiro nasceu: o I Encontro Nacional de Vielas de Roda rolou em Curitiba e a maior parte de nós compareceu e fez aquele fim de semana de novembro entrar para a história. Conheci pessoas maravilhosas que acabaram de realizar o sonho de ter uma viela, de tocar com outras pessoas. Pessoas que acabaram de começar novos projetos, e pessoas que apenas queriam ver os instrumentos de perto. Esse foi provavelmente o highlight do nosso ano; e eu não preciso entrar em detalhes a respeito do que sinto em relação àquele fim de semana.

Rabequeiros de Roda

Mondial de la Bière - Terreirão do Samba - RJ
Tudo passou muito rápido, na verdade. Por isso essa semana que passou soou como outra qualquer - não parece o final do ano. E fazer esse último show com a minha banda no novo Bar do Turco, em Itaipu, foi engraçado. Digo isso porque foi um show totalmente diferente do que estamos acostumados. Um público um pouco mais velho, sentadinho, todos compenetrados, como se estivessem num concerto. Geralmente não gosto disso, mas tivemos uma atenção diferente; e a viela, como sempre, 100% de atenção, a ponto de eu ficar tão nervoso quanto a primeira vez em que a toquei ao vivo. Shows com a viela são geralmente complicados; basta eu segura-la para que um certo silêncio corra pela sala e todos me ouçam com curiosidade. Eu fico TENSO. Fora que leva-la comigo é sempre um perrengue, ainda mais nessa época do ano. Como o instrumento é uma grande caixa abaulada de madeira e cordas, a influência da temperatura pode ser devastadora e me deixar com a cara no chão na hora começar a tocar, perdendo alguns minutos afinando. No fim, os sorrisos. E todas as perguntas que eu já sei responder até em libras... E tudo vale a pena. =)

Meu primeiro aluno.
Após tanta emoção, termino esse ano tendo uma vivência muito importante para minha trajetória e meus planos: seguindo a ideia da querida amiga Raine Holtz, estou contemplando a ideia de começar a dar aulas de viela de roda em 2015. Nada muito elaborado, apenas o básico, com o intuito de difundir o interesse pelo instrumento e claro, traçar uma carreira mais concreta com o mesmo. Tirar a viela de roda dessa névoa de mistério, tira-la um pouco desse pedestal inalcançável. Já tive minhas primeiras experiências agora pelo fim do ano, e confesso que gostei muito. Até porque ensinando a gente aprende; e aprendendo a gente ensina melhor.

A galera se divertindo,
O último fim de semana do ano, que chegou de mansinho, me levou a um delicioso pique-nique tolkiano no aterro do Flamengo, onde eu e Lyanna pudemos entreter um pouco os meus amigos leitores elfos e hobbits. A viela foi um sucesso, do jeito que merece ser; e meu ano, por sua vez, se fecha com chave de ouro e a promessa de muitas revoluções em 2015. Que girem as rodas e venham os novos vielistas, que a semente do nosso instrumento finalmente floresça nesse canto do mundo, sempre tão fértil musicalmente.

Obrigado a todos que fizeram parte do meu 2014. Vamos quebrar tudo em 2015, que essa roda é infinita. ;-)


Vielisticamente,

Primeiro material em português totalmente
voltado para viela de roda. Saiu na semana do nosso encontro.


quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Game of Thrones na Viela de Roda



Mateus e Francisco Sokolowski e sua versão de Game of Thrones postada essa semana no Facebook.
Já é o segundo cover vielístico dessa música aqui em nossas terras, então estamos bem! =D Para quem não lembra, minha banda também toca esse cover, sempre uma sensação em shows.




Parabéns aos rapazes pelo arranjo, tão bonito.





Vielisticamente,





sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Doreen Muskett


E essa semana faleceu uma das pessoas que mais contribuíram para a existência e popularidade da viela de roda na atualidade.

Impulsionada pela falta de um método mais atual para a viela de roda, Doreen Muskett dedicou sua parte de sua vida à criação do Hurdy-Gurdy Method, livro que teve sua primeira edição em 1979 - a primeira de quatro edições até o presente momento.

Esse livro foi a primeira indicação literária que me foi dada a respeito da viela; e até hoje eu o utilizo, aqui no Brasil. 

Foto postada por Sheila Sheppard, filha de Doreen

Doreen, que lutou contra o mal de Parkinson por 44 anos, foi uma figura de extrema importância para basicamente toda a nova geração de vielistas; e até o virtuoso Nigel Eaton comentou que ela foi a primeira pessoa a colocar uma viela em suas mãos.

Seu marido, Michael Muskett, nos comunicou sobre sua morte nesta terça-feira, dia 16 de dezembro, muito emocionado; nos dizendo que Doreen partiu pouco depois de ele ter tocado uma dança francesa em sua viela, ao seu lado.





Que a obra dessa mulher fantástica seja eterna; e que muitos vielistas ainda possam brotar das páginas de seu livro.


Vielisticamente,