terça-feira, 31 de março de 2015

Viela no Brasil entrevista: Anna Murphy (Eluveitie)


Que a viela de roda tem ganhado popularidade de forma assustadoramente rápida, não surpreende mais ninguém. Aqui no Brasil, vimos o número de vielistas crescer absurdamente em menos de três anos (éramos dois quando trouxe a minha, somos 15 agora?). Independente dos nossos músicos e de suas diferentes formas de chegar ao instrumento, um dos maiores - se não o maior - canal difusor da viela de roda aqui no Brasil e no mundo atualmente é a banda de folk metal Eluveitie.

Mesclando instrumentos "típicos" do metal com instrumentos tradicionais (gaitas de fole, flautas, bandola, violino e claro, viela de roda) a banda tem sempre um fundo histórico por trás de seus trabalhos, fazendo referências a entidades e personalidades históricas do mundo celta - principalmente no que diz respeito aos Helvetii, tribo gaulesa que ocupava toda a região que hoje é a Suíça durante o império Romano, uma tribo cuja história e língua são recriadas e exploradas em letras da própria banda através de muita pesquisa e originalidade. Para a felicidade de muitos, o Eluveitie passará pelo Brasil nesse mês que se inicia, tocando dia 11 de abril em São Paulo, dia 12 no Teatro Odisséia, aqui no Rio de Janeiro, dia 13 em Porto Alegre e dia 14 em Curitiba.

E hoje, com enorme prazer, meu blog celebra a vinda da banda trazendo para vocês uma entrevista exclusiva com Anna Murphy, vocalista e vielista de roda do Eluveitie. Anna Murphy, que também trabalha como engenheira de som nos estúdios SoundFarm, em Lucerna, encontra tempo em sua agenda para lidar paralelamente com outros projetos como Lethe ProjectFräkmündt e claro, o seu projeto solo, que é fantástico. 

Essa entrevista não teria acontecido se não fosse pela sempre muito gentil Niha Cartena, webmiss e fundadora do fã clube do Eluveitie, que além possuir um blog maneiríssimo (clique aqui), também possibilitou essa oportunidade maravilhosa. Obrigado pelo apoio e pela força. Fica aqui meu forte abraço. Fica também um beijo enorme à Nayane Teixeira (blog vielístico aqui), que tornou esse contato possível.

Enjoy. ;)

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                                                      Eluveitie - Omnos (acústico)

• Vielistas normalmente tocam mais de um instrumento até o momento em que são “abduzidos”
por esse instrumento fascinante. O que te atraiu mais no instrumento, o visual ou apenas o som?

- Eu vi a viela de roda pela primeira vez quando fui assistir a um show do Faun (banda folk alemã); 
eu era muito jovem na época, tinha uns 15 anos, e fui com minha mãe. Assim que eu ouvi as primeiras notas da viela de roda eu disse a ela “é isso que eu quero tocar!”, então podemos dizer que foi principalmente o som – mas a coisa toda tem um visual muito cool.


• Quando eu comecei a tocar viela de roda, as pessoas me olhavam como se eu fosse um alien. Isso ocorreu com você em algum nível, ou o fato de você viver na Europa tornou isso algo mais natural?

- Eu acho que há mais pessoas que conhecem o instrumento aqui, mas a maioria delas é  envolvida com música antiga ou folk. Quase todos os músicos de outros estilos não tem a menor noção do que é uma viela de roda e geralmente ficam confusos ao ouvirem o instrumento pela primeira vez.


• O que é pior: trocar o algodão ou trocar as cordas? 

- Definitivamente as cordas!

• Enquanto vielista, sei  que lidar com o instrumento no palco pode ser bem trabalhoso e delicado. Você já passou por muitos problemas nesse sentido? Como os resolveu?

- Basicamente o tempo todo.  ;-)  Eu diria que oito anos tocando viela de roda numa banda de metal que  está constantemente em turnê foi desafiador. Especialmente quando eu tinha apenas uma viela,  porque se alguma coisa desse errado eu não teria onde leva-la para um reparo, já que luthiers de vielas de roda não existem em todos os lugares. 

Durante esses anos eu passei por milhares de problemas, seja deixando-a cair ou até mesmo a coisa toda simplesmente quebrar sem nenhuma razão aparente. Por sorte isso mudou, já que agora tenho mais de um instrumento e toco em uma viela elétrica há mais ou menos um ano. É por isso também que eu normalmente uso apenas as cordas cantoras ao vivo: do contrário eu teria que reajustar o trompette e os bordões constantemente, alterando a tensão das cordas, o que não leva apenas alguns segundos, infelizmente...


• Que modelo você tem usado e o que o torna especial?
Anna e seu Accento, com direito a preamp.

Meu instrumento principal para tocar ao vivo é o “Accento”, do Sebastian Hilsmann: eu amo esse instrumento. É confiável, robusto e soa incrível pelo fato de o som não depender do corpo do instrumento para ser ouvido. Para tocar acusticamente e para gravações, eu uso o “Largo”, também do Sebastian Hilsmann. O som é rico, reforçado por várias cordas simpáticas.


• Você tem uma marca favorite de cordas?

- Sim, eu gosto muito da Savarez


• Você pode mencionar um dos momentos mais especiais que você viveu com sua viela de roda?

- Basicamente cada vez que a tripulação não me enche o saco por eu leva-la como bagagem de mão. 


• Você já escreveu alguma peça instrumental na viela de roda ou você geralmente compõe em 
outros instrumentos?

- Sim, já escrevi algumas! Um exemplo é a música “Sacrapos”, do Eluveitie. 


•  Uma mensagem para os futuros vielistas brasileiros. 

- “Rock those hurdies!! ;)"

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Para saber mais sobre Anna e sua banda:   https://www.eluveitie.ch

Vielisticamente,


segunda-feira, 16 de março de 2015

EP Café Irlanda

Foto pelo querido amigo Pedro Costa - Café Irlanda no Teatro Rival 2015
A primeira vez em que encostei em um violino eu tinha 14 anos. Por um lado, a desvantagem: já não era mais tão criança, por outro, a verdade é que eu já possuía uma certa consciência musical; e uma tendência clara a sonoridades mais diferentes, a uma pegada mais folk.

Gravando Sharon's Song com grandes amigos
Eu ouvia muita coisa que formou meu caráter musical, que me moldou de uma forma estranhamente positiva. Dentre essas coisas, havia a música galega, que utilizava a viela de roda. Meu contato com a viela, naquela época, se resumia ao som, e no fim das contas a única forma de atingir (ou chegar o mais próximo possível daquelas sonoridades) seria através do violino, instrumento que fez toda a diferença; e me salvou de tantas coisas que nem cabem aqui. Sou eternamente grato ao violino e a tudo que ele me proporcionou e ainda proporciona, mas o ponto alto para mim sempre foi o fato de ele ter me levado a formar o Café Irlanda, que em seu início me deu uma energia imensurável para lutar por dois anos até conseguir minha viela de roda.

No veleiro Cisne Branco
Pegar a viela, tocar a viela e traze-la para casa foi a melhor experiência que já vivi, mesmo com a estranha surpresa de ela não ter funcionado na hora H: a viela de roda não tem e provavelmente nunca terá N A D A a ver com música irlandesa, a não ser seus bordões, vez ou outra em ré. Ao perceber que para mim isso não diminuía em nada a magia do instrumento, me dei conta do quão preso a ele eu estava. E aos poucos eu vi que a aparente distância entre ela e a música irlandesa não me impedia de toca-la, de conhecer outras músicas. E pude ver que essa distancia não existia quando o assunto era música brasileira. E o resto é uma estrada sem fim. Venho seguindo com calma, fazendo o que consigo e desbravando novos mundos musicais; e a verdade é que eu dei uma boa volta ao mundo e terminei aqui no Brasil, gravando pela primeira vez minha voz tímida, acompanhada pelo meu violino e claro, pela minha viela de roda.  Algo que nunca imaginei que faria, por mais que eu quisesse. 

Gravando
A canção que escolhi saiu na viela em alguns minutos, quase como se tivesse sido escrita para o instrumento. Eu já a amava há anos, e agora a amo ainda mais. A escolha veio porque a interpretava como uma bela canção de amor, com uma escolha de palavras que me remete ao misticismo, à espera de algo mágico e ao amor. Essa música é um marco, uma porta e uma chave. E eu agradeço a todos pelo apoio, direto ou indireto.


Você pode ouvir o resultado dessa história toda aqui.

O lançamento deste EP virtual do Café Irlanda dá início a um processo do qual eu jamais sairei, e eu espero que essa música toque vocês tanto quanto a mim.


Vielisticamente,

;-)


2015 e suas novidades

E é com muito prazer que depois de um longo e merecido descanso, eu volto ao blog para dar início a este que já é um ano memorável.

Nosso pequeno mundo à manivela abre 2015 com alguns lançamentos muito importantes para a cena brasileira, começando com minha querida amiga e artista de quem sou fã, Raine Holtz.



Raine Holtz está lançando seu novo álbum, Confluence: The rivers of Sorrow, que vem atingindo metas (e o sonho!) de ser financiado através do site kickante, possibilitando um lançamento físico para este projeto tão lindo e tão rico, cheio de viela de roda e outros instrumentos apaixonantes. Este álbum representa tanto, em tantos aspectos... É, antes de mais nada, o sucesso e a visibilidade de uma mulher trans, algo raro de se ver dentro e fora de nosso país. É a música independente mostrando seu poder. E é o passeio pelo mundo fantástico que a Raine cria em seus sons, e a viela de roda florescendo através de uma artista brasileira. Orgulho.

Sobre seu novo trabalho, o primeiro lançado enquanto uma mulher que sabe e ama quem é, Raine nos diz:

“Confluence: The Rivers of Sorrow” é, sob este contexto, meu primeiro álbum, e eu ouso dizer que é a melhor coisa que eu já fiz. Ele ultrapassa “Schadenfreude” em beleza e refinamento; “Santuário” em sabedoria e clareza; “Deconstruct the Debris” em força e propósito, e “Sail, Schooner” em estória e significado. É o epítome da minha auto-descoberta, minha honestidade e coragem; e ainda sim é tão delicado e confortante quanto os últimos momentos de pura lucidez antes da morte. É a jornada de um espírito desde suas origens até sua vinda à carne, e subsequente partida. É a primeira coisa que faz sentido para mim."

Raine tem tocado também por Curitiba, e eu deixo aqui um vídeo de sua última apresentação, dia 13 de março.

Mais informações:

http://www.throughwaves.com
http://www.kickante.com.br/confluence


Vielisticamente,

;-)