Eu a conheci especificamente através da música galega, muitos outros a conheceram através da música antiga; alguns - aqui no Brasil, inclusive e talvez principalmente - através do folk metal e outros, basicamente lá fora, foram abduzidos pela viela por conta da música tradicional de alguns países europeus. As possibilidades que fogem a essas regras se limitam a ter ouvido "hurdy-gurdy man", do Donovan, ou ter visto a clássica participação de Nigel Eaton nos shows do Robert Plant ou da Loreena McKkennitt. Temos até um bom número de vias que nos levem ao nosso amado instrumento, ainda mais hoje em dia, com o boom da viela de roda in all things pagan.
Porém, contudo, todavia, sabemos que o melhor do Brasil é o brasileiro e com a gente não há tempo ruim e toda oportunidade é uma oportunidade. Somos únicos, é justo dizer. Mas somos ainda MAIS únicos quando o assunto é a viela de roda.
Pois bem: estava eu no facebook dia desses quando um rapaz me adicionou e pediu permissão para entrar no nosso Viela de Roda Brasil, nosso amado grupo virtual. Prontamente aceitei, afinal quanto mais adeptos, melhor... A surpresa foi ver, logo de cara, um monte de fotos de uma viela de roda diferente das que normalmente vemos por aí. Desconfiei e desconfiei, mas era isso mesmo, a bendita viela havia sido construída pelo rapaz em questão. Estou falando de Fernando Padilha, de Jundiaí, São Paulo,
Fernando vem de uma família do interior de São Paulo, e aprendeu a arte da liuteria com seu avô quando ainda era muito jovem. Hoje em dia é o único de sua família que ainda sabe lidar com a madeira e as ferramentas necessárias para construir instrumentos musicais. Sua paixão pela viela de roda se reflete numa história que começa em 2004 e se conclui agora em 2016, com a construção de sua primeira viela.
Utilizando-se de suas folgas no trabalho, Fernando levou mais ou menos cinco meses (!) para construir sua viela de roda. Levou em consideração o tempo do verniz, tempo de colagem etc. E pesquisou bastante, principalmente no que diz respeito à madeira que deveria ser utilizada. O mais impressionante em sua história, contudo, é que suas próprias medidas foram utilizadas para construir seu instrumento. E a viela que o cativou eternamente? Simplesmente a viela de um personagem da animação O Expresso Polar. A cena está aqui em cima. Isso é apenas FANTÁSTICO.
Para uma primeira viela, para alguém que nunca havia visto o instrumento antes e principalmente para alguém que a viu em uma animação, o resultado é espetacular. Ainda não pude ouvir seu som, porque de acordo com Fernando ele ainda precisa encordoar sua viela, aplicar a resina na roda e claro, instalar a manivela. E sabemos que a construção de um instrumento (ainda mais da viela de roda) requer anos de aperfeiçoamento. Tanto que hoje em dia temos escolas lá fora especializadas apenas em formar luthiers de vielas e roda (alô, Galícia! Te amamos!). De qualquer forma, gente, Fernando já pisou com o pé direito no mundo da viela de roda no Brasil. É engraçado ver que o processo que estamos vivendo aqui em 2016 era muito comum na Europa lá pelos anos 60. Apesar de alguma tradição sempre ter existido, muitos luthiers começaram assim, se baseando em pinturas e esculturas, dando asas à essa paixão com suas próprias mãos porque viviam em locais afastados dos pólos tradicionais e precisaram aprender sua própria arte sozinhos.
Toda sorte do mundo pro Fernando. Que sua jornada seja longa e fértil, pois faltam vielas de roda aqui no Brasil; e são muitos os que tem esse sonho.
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Algumas fotos do processo de construção:
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Vielisticamente,
Rique