Quando acordei, deveriam ser 5:30 da manhã. Ainda não tínhamos nos adaptado ao fuso horário local, ainda mais naquelas condições (havíamos chegado na tarde anterior, indo do albergue diretamente para uma aula em grupo na Waltons School of Music, seguida por um bom banho e uma longa noite com pub crawl e baladas [sim, no plural, poque eu sou tr00] ). Apesar do frio, acho que eu tremia mais de nervoso. Havia dormido muito pouco e estava ansioso. Engraçado que eu passei tanto tempo imaginando aquele dia, mas não pensei naquele momento de acordar sabendo o que aconteceria... Sem pensar no frio na barriga que sentiria. Na escuridão das ruas que me levariam ao aeroporto.
Devo dizer que foi um momento mega forever alone. Mas estava me sentindo um aventureiro no ápice de sua jornada épica. Desbravando um mundo desconhecido para recuperar algo de suma importância para sua vida. Claro que nesse caso, o herói em questão tirava foto de tudo. Do croissant e do suco que seriam seu café da manhã até as passagens que o fariam cruzar um mar duas vezes no mesmo dia. Rio-de-Janeiro-Madrid-Dublin-Cardiff-Merthyr-Tydfill, Merthyr-Tydfill-Cardiff-Dublin-Madrid-Rio-de-Janeiro. Aer Lingus. Só de pensar nesse nome sinto aquele frio da barriga misturado com saudade.
Passado o café da manhã, a espera se tornou algo massante e enlouquecedor. Momentos de tensão rolaram para eu achar meu portão de embarque, mas uma vez encontrado, só me restou sentar e curtir o visual da pista de pouso e decolagem. Desde que eu havia chegado à Irlanda, eu ainda não havia tido tempo de sentar e falar "ok, aqui estou eu. Assimilemos esse dado". Talvez porque fazer isso implicasse em conceber a ideia de um fim para aqueles dias mágicos. Bem, no fim das contas, a chamada para o bendito portão 935 ocorreu e eu entrei numa pequena fila para o embarque. Éramos tão poucos. E eu lembro de ver duas francesas conversando, obviamente em francês. Queria tanto ter falado com elas, mas o meu pavor daquele simpático avião me deixou estático. The Lord was testing me. E entrar naquele avião provavelmente era a prova final antes do meu prêmio. O avião era o chefão daquela fase. rs
Pensem numa pessoa com medo de altura. Agora imaginem esta pessoa num avião de papelão. |
Eu mal havia chegado na Irlanda e já estava partindo. Quando entrei no avião, entrei numa outra realidade. Outro universo. E tudo que restava ali era o medo de altura. Estava dormente; e com o avião decolando eu dei play nos CD's do Carreg Lafar e vi uma ensolarada Dublin se perder em meio a nuvens cinzas que cheiravam a sonho saindo do forno da realidade.
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