Não sei nem por onde começar este post. Acho que de todos os artistas/trabalhos abordados aqui no blog até agora, este é o mais denso em termos de informação, história e detalhes, a ponto de fazer da viela um mero coadjuvante do quadro geral. Devo dizer também que este é um trabalho com o qual eu me identifico de forma um pouco mais forte por diversas razões pessoais. Por conta disso, fico até meio contrariado, já que para mim é muito claro que por mais que eu escreva, o verdadeiro valor dele não será devidamente transmitido.
Raine Holtz e alguns de seus intrumentos |
Antes de mais nada, esclareço: não se trata de uma banda, e sim de uma única pessoa, Raine Holtz, curitibano que começou seus estudos musicais no piano clássico e hoje é cantor e multi-instrumentista autodidata, tocando acordeon, harpa, flauta doce, algumas percussões étnicas e, mais recentemente, a viela de roda. Tudo isso em seu projeto independente que é muito, mas muito bem feito. De quebra, Raine me disse que está se preparando para adquirir um yangquin chinês, um bodhrán e um shenai indiano. Sim, é muita coisa. Mas tudo utilizado de forma muito sóbria e sensível.
Dono de uma voz interior musical muito distinta e direta, Raine se apaixonou pela viela de roda ao ver o virtuoso Nigel Eaton em ação há alguns anos: "É o som mais belo, o instrumento mais incrível e peculiar, tudo parece soar melhor com o hurdy-gurdy. Sou completamente fascinado por ele."
[2] foi tudo o que pude responder.
Seu trabalho, entitulado Through Waves, é um misto de sentimentos e cores profundas e, de uma forma muito bonita, tristes também. Algumas de suas canções me trazem uma saudade de algo que não sei o que é. Isso significa, ao menos para mim, que sua música atinge sentimentos muito antigos dentro de nós. É algo bem especial. Aliás, é justamente por conta dessa falta de nomes a sentimentos que eu gostaria de chamar a atenção de vocês para o vídeo da música Two Chapters, do terceiro disco [ Santuário ] deste interessantíssimo projeto, previsto para outubro:
Como comentei no último post, o conheci através do amigo Alex Navar, que provavelmente ciente da minha tentativa de "catalogar", encontrar e quem sabe - dentro do possível - unir a comunidade vielística do Brasil, me indicou o trabalho do Raine.
A identificação foi quase que instantânea, não só pela viela em si, mas por toda a proposta que perpassa seu trabalho. Encontrar na música uma terapia pessoal é algo sobre o qual todo músico, de uma forma ou de outra, entende. Levar esta terapia a outros níveis mais profundos, por conta própria e de forma bem feita, já é outra história. E Raine faz isso de uma forma extremamente delicada e própria.
Androginia, ondas, sensibilidade, outono, magia, excentricidade e personalidade são alguns dos incontáveis elementos com os quais Raine faz malabarismo ao longo de sua jornada. Aliás, jornada essa que com certeza nos reserva muitas surpresas boas. Com direito à viela de roda fazendo música bonita e interessante aqui no Brasil. ;-)
Raine Holtz toca uma viela de roda em dó, modelo minuet, construída por Mel e Ann Dorries, nos Estados Unidos.