Poucas vezes na vida podemos nos preparar para um momento em que nossa estrada muda de curso e tudo ganha uma nova cara, sob uma nova luz. Hoje foi um desses dias para nossa querida amiga Nayane Spigoti, que viveu um desses momentos mágicos - um pelo qual ela esperou, e muito - ao receber sua linda viela de roda. Vindo diretamente dos confins de Lancashire, na Inglaterra, Wren foi construída pelo mesmo luthier da minha viela de roda, o simpático e talentoso Neil Brook. Posso dizer que minha Lyanna agora tem um irmãozinho lá em São Caetano do Sul, em São Paulo. Oitava viela de roda (não contando as sinfonias dos grupos de música antiga) a chegar no Brasil.
Apesar de ser a segunda viela construída por Neil a chegar por aqui, ela ainda é a única do modelo Wren, feito especialmente para aqueles que estão iniciando essa aventura que é tocar viela de roda. É um modelo simples, compacto e extremamente charmoso. Eu realmente não sei o que é ter um instrumento tão prático para carregar (eu sempre pareço estar carregando um caixão de anão nas costas), por isso acho que é um instrumento válido não só para iniciantes, mas para todo mundo que vez ou outra precisa viajar com sua viela ou carregar ela para sessions. Além disso, o Wren vem com tudo que uma viela de roda precisa ter: trompette (cachorro), bordões, cordas cantoras e e tudo mais. Vale muito a pena.
Nayane conheceu e se apaixonou pela viela através da banda Eluveitie, que traz a linda Anna Murphy, sempre encantando mais pessoas e trazendo mais jovens ao fantástico mundo da viela de roda. O que me fascina nisso tudo é que uma coisa é você ver o instrumento e se encantar, outra coisa é fazer o que a Nay fez (e eu fiz, e todos nós da pequena comunidade vielística fizemos), que é embarcar de cabeça num projeto que é trabalhoso e delicado sim: conseguir uma viela de roda.
Mais uma vez vemos que apesar das complicações, é tudo uma questão de planejamento. Nayane levou aproximadamente três anos desde sua decisão até ter o instrumento em mãos, hoje. Segundo ela, esse período ainda contou com os seis meses na fila de espera, alguns meses na fabricação e mais uns meses para quebrar a cabeça sobre como trazer o instrumento. Passar pelo processo de pesquisa sobre transferências bancárias, datas, taxas, preços... Ufa! Tudo isso pode ser muito exaustivo, e às vezes é só o começo, já que ainda precisamos pensar e repensar como e quando buscar a viela, decidir se a confiaremos aos correios (don't), se vamos busca-la ou se alguém nos fará o favor de traze-la. Mais uma vez: é questão de estudar e planejar, sempre com calma e foco.
Hoje acabou sendo um dia especial para mim também, porque não tem como presenciar isso e não ficar feliz, não ser tocado pela sensação de sonho realizado. Há quase três (!) anos quem vivia esse momento era eu; e é pra sempre, mesmo. Sei que isso soa um pouco dramático, mas a sensação de impotência diante de querer um instrumento desses já soa como uma constante lá fora, onde a mobilidade é mais em conta e há menos barreiras, então imaginem em nosso país. Sabemos que não é fácil, por mil razões: o preço, a não-existência de vielas por aqui, o tempo de espera etc. E hoje mais uma pessoa foi além dessa ideia assustadora de... Ter uma viela de roda no Brasil. E crescemos mais um pouco.
Deixo aqui meus parabéns à Nayane e ao BeanSidhe, por terem realizado juntos esse sonho. Agora temos a oitava vielista de roda de nosso país, curtindo um instrumento lindo e logo logo vindo à tona com um trabalho legal e porque não, promissor? Digo isso porque antes da grana e às vezes até mesmo do talento, o que conta é a paixão; e a sua paixão é nítida, Nay!
Vielisticamente,
;-)
Emocionada! Gratidão! <3
ResponderExcluirEsse texto me dá confiança na minha paixão pela viela-de-roda! E que venha a minha "pequena" também <3
ResponderExcluirNão desista desse sonho lindo! Dá um trabalhão no começo, mas depois toda a magia que a viela transmite compensa tudo <3 Boa sorte!
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