É muito estranho pensar que os poucos mestres da viela de roda que pude conhecer eu só conheci porque criei coragem (meses juntando $$$) e me enfiei na Europa. Encontra-los sempre foi uma aventura deliciosa, apesar da distância entre meu país e o mundo vielístico ser quase desanimadora. Digo que é estranho porque esse mês o Brasil teve o inacreditável privilégio de receber diretamente da Áustria Matthias Loibner e sua viela de roda - algo que eu jamais pensei que veria ocorrer - e eu , tão perto e tão longe, não pude vê-lo.
Ganhador de prêmios e um dos grandes ícones da viela de roda no mundo, Matthias sempre teve uma relação forte tanto com a música folk como com a música experimental (daí o uso de seu laptop em seus concertos). Eu pessoalmente já conhecia o seu trabalho porque quado pesquisamos sobre o instrumento sempre acabamos passando por alguns vídeos em que ele apenas destrói a viela com sua mão direita, possuidora de uma técnica impecável e chocante.
Em janeiro, quando estive na Basilea, tive a oportunidade de ouvir falar bastante dele. Tobie Miller já estudou com Matthias e eu imaginava como deve ser fantástico ter a oportunidade de estudar com alguém tão talentoso - ele é considerado o Jimmy Hendrix da viela de roda, ok?
Pois bem, Matthias esteve por aqui e passou por Curitiba e Brasília para tocar no projeto Viva Mais Cultura, da Caixa Cultural. Como sua passagem não incluiu Rio ou São Paulo e eu só soube disse dois antes das datas, infelizmente eu não pude nem dar um oi. (#recalque) Contudo, entretanto, todavia, meus caros amigos da comunidade vielística não só o viram tocar, como o levaram para passeios e, claro, tiveram algumas horas de aula VIP.
Augusto e Matthias |
Começemos por Brasília. Dia 11 de setembro foi a vez do Augusto Ornellas, vielista de Brasília, aproveitar Matthias e sua viela. Apesar de essa ser a segunda data da curta passagem de Matthias, vale começar por ela. A palestra de Matthias em Brasília pode ser vista aqui, aqui, aqui e aqui.
Fico extremamente contente em saber que além das palestras meus amigos puderam conhece-lo e trocar ideias. É fundamental que esse tipo de interação role, porque UMA diquinha que seja que alguém desse porte nos dê é o suficiente para poupar-nos de meses e meses de desespero por não sabermos mexer ou solucionar um problema sonoro na viela. Estamos literalmente exilados do resto do mundo, então toda informação é bem-vinda.
A respeito do dia 9 de setembro, passo a palavra à Letícia Goularte, que nomeou Curitiba a capital nacional da viela de roda. Nada mais justo, galera. Tá todo mundo lá. ahah
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"Matthias Loibner em Curitiba – por: Letícia Grockotzki Goularte
No dia 09 de Setembro de 2014 o austríaco Matthias Loibner se apresentou no teatro da Caixa Cultural em Curitiba-PR e tive a oportunidade de conhecer seu trabalho e conhecer também sua simpatia. Foi um show mais que agradável no qual Matthias demonstrou sua percepção das coisas através da música, mais especificamente, sua percepção das pequenas coisas e da graça da vida, coisa que ele deixou claro em suas atitudes. E claro, sua envolvente viela de roda, a qual ele toca (e nos toca) de maneira incrível.
Em suas composições Matthias explora o instrumento indo além de como estamos acostumados a ver e a ouvir. Não se limitando a girar a manivela e apertar as teclas, ele usa glissandos, pinça as cordas, utiliza harmônicos e até pequenos gestos percussivos.
Após o show tivemos a oportunidade de ter um contato mais próximo com ele e ali começamos a descobrir o ser carismático que é. Não fui ao bar na terça a noite (vídeo aqui), mas no dia seguinte me encontrei com ele a tarde. Matthias não fez questão de conhecer muito os “postais” de Curitiba, se contentou em conhecer o Bosque do Papa, perto de onde estava hospedado, o Museu Oscar Niemeyer e, após o almoço, sentar-se na grama da praça entre o museu e o bosque para conversar sobre sua filosofia de vida, entrar em ‘ressonância’ com o mundo e as pessoas, como ele mesmo diz.
“Eu anotei as coisas que gosto em um papel, a lista foi ficando tão grande e hoje eu posso dizer que sou mais feliz.” (Mais ou menos as palavras dele).
Um pouco antes da palestra que aconteceria na Escola de Música e Belas Artes do Paraná (UNESPAR), achei uma sala do prédio da universidade para que ele pudesse estar à vontade com sua viela. Queria tirar algumas dúvidas, mas mais que isso, ganhei uma aula de viela de roda. A minha viela ainda não chegou, mas não foi empecilho, pois ele simplesmente retirou sua viela da capa e a colocou em meu colo e assim conheci de perto quanto às técnicas que ele usa e tive minha primeira experiência no instrumento. Matthias também é um ótimo professor, daqueles que literalmente pede para que você feche os olhos e sinta a música.
Letícia, Mateus e Matthias |
Quando ele estava terminando de me ensinar as primeiras noções, chegaram o Mateus Sokolowski e o Fernando Kinach (vielistas de Curitiba, da banda Mandala Celta) que eu havia convidado para que também pudessem ter esse tempo com o Matthias. O resultado foi uma sessão de reparos na viela dos dois (Matthias já fez curso de lutheria) que não deixou de ser também uma aula, com dicas de como ele cuida de sua viela também.
Por fim, fomos à palestra, a qual também foi muito proveitosa e está gravada na íntegra em áudio e vídeo (disponível no youtube)
Matthias Loibner é essa pessoa que nos surpreende a cada passo, conhecedor e um professor, não só de música, mas também da vida. Excelente instrumentista da viela-de-roda, excelente músico, mas também humilde e muito amigável. Matthias, meu (e acho que de todos os vielistas e admiradores da viela-de-roda) muito obrigada!"
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O mais incrível disso tudo é que se olharmos para trás já podemos ver que o Brasil já contou com a presença de algumas das pessoas mais relevantes da cena vielística contemporânea (Nigel Eaton, Ariel Ninas, Germán Díaz e agora Matthias Loibner). Sendo que os últimos que por aqui passaram já viram que nossa comunidade está crescendo bem e crescendo rápido. Ponto para nós. E meus parabéns aos músicos que puderam usufruir dessas horas, tenho certeza que vocês crescerão muito e farão nosso querido instrumento ter cada vez mais visibilidade.
Sites do artista e de seu luthier:
Vielisticamente,