terça-feira, 7 de agosto de 2018

Festival Conexões Musicais 2018 - UFF

Wings & Horns ao vivo, pela primeira vez. Vítor Freitas na Harpa.

Se há seis meses alguém me dissesse que eu encararia um palco sozinho (ainda mais num festival cheio de músicos) eu não acreditaria. Já acharia suficientemente surreal conceber que lançaria uma música... Mas tudo isso rolou, sim. Com direito ao o concerto (ou show?) em questão; e foi incrível passar por isso. Mais que sair da minha zona de conforto; mais que apresentar parte do meu mundo para pessoas tão variadas, o que eu realmente levo do Festival Conexões Musicais são lições que aprendi sobre mim, sobre minha música e sobre o que pretendo levar adiante. 


Ano passado eu já havia tido o prazer de ir "busking" pelos jardins da reitoria da Universidade Federal Fluminense, na feira medieval que fecha o Festival Conexões Musicais. Fui de enxerido, mais porque no ano anterior havia rolado uma viela e eu não pude estar lá. Foi esse simples ato que me trouxe de volta aos jardins da UFF  - dessa vez em cima do palco - para (re) ver tanta gente legal e tocar viela para um público extremamente musical e aberto ao novo, ainda que revestido de instrumento milenar. 

Contei com o  auxílio, a paciência e o talento de Vítor Freitas, harpista aluno da UFRJ que há meses vem me ouvindo e gentilmente se abrindo às minhas ideias musicais. Foi um verdadeiro privilégio ensaiar, trocar ideia e evidentemente me apresentar ao lado de um harpista. Ainda mais um harpista que já se tornou um querido amigo, com quem posso contar. Fica meu agradecimento, querido.

Passado a tensão do show da quinta, me restou apenas aproveitar a delícia que foi a feira medieval de encerramento do festival, também nos jardins da reitoria. Além do público de sempre (vocês sabem quem vocês são!=]) pude divulgar meu instrumento para mais pessoas ainda, distribuir cartões e pasmem, conhecer outro vielista! 

Johnny Almeida apareceu por lá com o tekerö húngaro - brasileiro, na real, já que ele mesmo o construiu - e me deixou tirar um som muito legal ao seu lado. Sorte de quem estava lá e mal sabia da raridade que é ver duas vielas tocando juntas por aqui... Ainda mais uma delas sendo brasileira. Fica também meu agradecimento ao Johnny por ter aparecido e ter sido tão gentil!

O processo de gravação de Wings & Horns segue estável, e com toda a magia envolvida em algo assim eu não poderia iniciar meu segundo semestre de forma melhor, por isso deixo aqui mais agradecimentos:

Ao Deivison Branco, pelo convite para o festival; ao Bebeto pela força lá no palco! Amei. Agradeço também ao Pedro Brandileone e à Kristina Augustin pela paciência nos e-mails; à Virgínia Van der Linden, sempre uma fofa e me indicando para mais pessoas antenadas na viela de roda. 

Obrigado novamente (e principalmente) ao Vítor, meu querido cristal harpista, por absolutamente tudo. 

Que esse evento tenha sido o primeiro de muitos.



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segunda-feira, 25 de junho de 2018

Wings & Horns // Imaginary Music



Eu fazendo música - aos olhos dos outros - sempre foi algo em grupo.

Comecei com um pequeno duo com meu irmão. Brincadeiras em casa, algumas canções improvisadas no violão (que eu nunca toquei, mas servia para compor minhas primeiras músicas). De cara eu já sabia, muito no fundo, que o que eu queria não estaria no violão. Nem na faculdade de música. Após alguns anos de conflito, no meu primeiro dia na faculdade de Letras, conheci o Dé, meu veterano. E dali vieram os felizes anos com a Lágrima Flor; uma verdadeira escola que fez eu me enxergar como músico em vez de alguém que tentava se encontrar num violino, preso entre tradições e técnicas e rótulos. Esses  anos da Lágrima se mesclaram com o nascimento do Café Irlanda, outra escola. E com ela a realização inenarrável de me encontrar no meio daqueles sons que sempre haviam feito parte de mim e não conseguiam desaguar em lugar algum. 

Ainda assim, havia algo, lá no fundo. Porque ao encontrar a viela percebi que o que eu queria fazer estava além do meu instrumento; e muito além de tudo que eu havia vivido musicalmente até então. Foram anos compondo coisas que não tinham lugar em projeto algum. Ora soavam muito folk para uma banda mais pop, ora muito estranhas para um projeto Irish. E em vez de se dissiparem como névoa que pareciam ser, essas músicas se empilharam e ganharam força. Força essa que tanto pulsou, tanto doeu, que desabou sobre minha cabeça e aliviou meu coração. Uma avalanche coroada pela música acima.

O que desaguou, desaguou aqui no meu quarto ao longo de anos. E quando a viela chegou, uma porta se abriu e muita coisa simplesmente caiu de mim. Algo fluiu. Algo preso há muito, mas muito tempo.

Eu poderia dizer que esse projeto começa aqui. Ou quando gravei essa música. Ou quando à escrevi.
Mas não.

Esse projeto começou quando eu nasci; e quando peguei num violino pela primeira vez. Esse projeto nasceu quando alguém me disse que música não tinha nada a ver comigo. E quando me apresentei na frente de uma plateia pela primeira vez, orgulhoso por fazer minimamente bem algo que me salvou de tanta coisa, em tantos níveis que não cabe nem aqui dizer. Esse projeto nasceu quando desisti de um concerto de formatura porque fui sequestrado por um instrumento mais forte que eu.

Esse projeto sou eu, sozinho, me rendendo a algo que sempre evitei: me expor sozinho. Wings & Horns sou eu tentando existir, com o que funciona e o que precisa de melhora. É a coisa mais honesta que já fiz. E essas músicas estão chegando para o mundo. Sou eu virado ao avesso para qualquer pessoa ver e ouvir. 

Músicas que vieram de livros.
Músicas que chegaram pra mim em sonho.
Músicas que vieram da lua, do amanhecer, dos amores  - do amor - e das histórias que nem eu sabia que sabia.

Da luz e da sombra.

Daquilo que mais amamos em nós; assim como que daqueles cantos imperfeitos que gritam por aceitação em vão.

Essas músicas são espinhos e pétalas.
Chifres sim;

porém asas também.



Paths, o primeiro single:

iTunes: http://hyperurl.co/wingsandhornspaths

E também nas seguintes plataformas: Spotify, Deezer, Google Play, Napster e Claro Música

terça-feira, 15 de maio de 2018

Cellar Darling no Brasil


Rio de Janeiro. Teatro Rival, na Cinelândia. O camarim é o mesmo que ocupei com o Café Irlanda já duas vezes em noites de São Patrício. Tudo é familiar: o backstage, os corredores, o cheiro de centro da cidade na Cinelândia, com seus becos e botecos. O porém (muito bem-vindo) fica por conta da qualidade onírica do objeto que tenho em meu colo: um hurdy-gurdy branco. Que sonho, dá mega pra praticar tarde da noite, eu falo e ela ri concordando. O modelo é o Accento, construído por Sebastian Hilsmann, meu querido luthier. Por um segundo, o frio na espinha: o instrumento é colocado em outra cadeira e eu tremo só de pensar numa queda, num esbarrão. Eu vivo fazendo merdas assim, diz Anna, sorrindo. Eu rio desse jeito de menina desastrada - até mesmo um pouco insegura - que ela tem. O mais legal é que isso não anula a mulher magicamente badass que ocupa os palcos conduzindo a mágica de Cellar Darling, sua atual banda, que em menos de dois anos de surgimento trouxe um álbum maravilhoso e já tocou em diferentes países, sempre aclamados.

O gurdy em questão pertence à Anna Murphy. Força criativa da natureza (título dado por seu colega de banda Merlin), Anna só fez despontar no mundo da música desde o dia em que caiu nos feitiços da viela de roda. O momento no camarim, entretanto, foi apenas a cereja no bolo, uma vez que nosso papo havia começado bem antes desse momento, ainda num boteco obscuro da Cinelândia. Difícil de acreditar que isso rolou, na real. Já nos falávamos mais ou menos antes - até meio que já nos cruzamos, sem que ela soubesse. Há alguns anos eu havia encomendado o Largo por uma emergência (meu gurdy na época havia quebrado, e eu estava na Suíça) e ao voltar de lá eu vi que ela também estava tocando um Largo, achei a coincidência bizarra, uma vez que fui parar no Sebastian por indicação da Tobie Miller, que é de um outro universo musical. Inclusive queria ter trocado uma ideia com Anna sobre isso no último show dela com o Eluveitie aqui no Brasil, em 2015; o que não rolou. E fora isso, sempre trocamos algumas mensagens e comments no insta. 

Anna Murphy é incrivelmente gentil e inteligente; a sensação que tenho é de que tudo que ela fala sempre parece dizer mais do que ouvimos. Cheia das entrelinhas e comentários diretos e honestos (the meat here is so fucking good, man), Anna é de longe a artista mais pé no chão - e, na boa, ao mesmo tempo a mais etérea - com quem já conversei; e é essa incongruência maravilhosa que a torna esse furacão: a mesma pessoa que fala sobre como é foda juntar dinheiro depois de começar do zero para dar de entrada num instrumento, fala de um mundo abstrato de (re)cortes e melodias que vem de algum lugar muito profundo e misterioso; onde línguas se fundem e notas e histórias vem à tona. A realidade e a surrealidade se mesclam. Seus olhões azuis absorvem tudo que a gente fala, sempre atentos. Por alguns bons minutos não fazia sentido ela estar sentada ali na cinelândia com os rapazes da banda. E foi super estranhos eles irem passar som ALI NO RIVAL e ela ficar ali comigo chatting over caipirinhas.  2018 realmente veio cheio das surpresas.

Dinheiro, música, criatividade, cordas reafinadas em notas incomuns, comida, planos, medo de arriscar, caipirinhas e bagagens de mão foram alguns dos tópicos que contemplamos em nossa conversa.  Murphy fala como o próximo álbum de sua banda vai ter muito mais viela de roda, um instrumento para o qual ela sente em algum nível que sua música não é feita. Comentário para o qual rebati um alto e sonoro WHAT. Como assim, sabe? Mas Anna não desaponta e reafirma: o primeiro álbum foi muito tímido. Nesse viremos com força total. Vibro.

É muito bom entrar em contato com a fonte de tanta magia. Magia essa que encantou cada pessoa que estava no Teatro Rival ontem. Da primeira nota na guitarra de Ivo em Black Moon à ultima notinha de Challenge, todos foram sugados pela roda do gurdy branco. Não adianta tentar fugir.  Para mim foi uma festa, gritei sem medo de ser feliz. Nunca esperei vê-los tão cedo na vida; e o show foi uma das performances mais perfeitas que já vi - e isso vindo de alguém que já viu coisas impressionantes como sei lá, Sigur Rós. 

Impossível destacar apenas uma parte, mas se eu realmente realmente precisasse eu faria uma menção honrosa à execução de Redemption, minha música favorita do álbum, canção que compensou a ausência de Hedonia, a única música do álbum cantada em alemão suíço.

Do momento em que essa galera deixou sua antiga banda ao momento que desceram do palco aqui no Rio, a trajetória deles não deve ter sido nada menos que uma tempestade de emoções. Para mim, provar um pouco de toda essa energia em um set de uma hora foi absolutamente inesquecível. Técnica impecável, presença, simpatia e uma vibe boa que somente artistas fazendo show no Brasil podem sentir. Cellar Darling me impressionou ainda mais. 




sexta-feira, 4 de maio de 2018

Rio Harp Festival - Participação com Athy



O ano é 2009. 

Eu vivo e respiro meios de conseguir uma viela de roda. Banda começando, ideias, ideias e ideias. Para a galera da ~cena celta ~, naquela época ainda meio afastada e com menos opções ainda do que fazer, um pequeno oasis chega: Rio Harp Festival.

Música e magia no único ensaio que rolou.
Foi em 2009 que estive no festival pela primeira vez; e sem conhecer nada de nada, fui guiado pela minha amiga Ra para o show que atraía bastante público: Athy. 

Argentino apaixonado (e vindo diretamente) pelo mundo feérico, Athy sempre causou certa comoção em seus shows devido ao seu estilo obscuro e místico, delicado e muitas vezes sensual - nesse show especificamente ele tirou a camisa risos. Sua música, de acordo com ele, está aqui para trazer mensagens de outras dimensões. Todas elas devidamente captadas por seus fãs. Piadas à parte, curti o show (também rs) e comprei minha cópia de Sabour a Tiershra, ótimo álbum, companheiro de tardes e mais tardes de pensamentos e devaneios (e de algumas consultas de tarô - don't ask).

POIS DAÍ CORTA PRA 2018

Eu às voltas na madruga sem conseguir dormir devido ao não-tão-impulsivo-porém-ainda-louco ato de começar a lançar meu projeto "solo" dou de cara com um simples flyer anunciando um show do Athy em Ilha Grande. Penso rindo TAÍ, NÉ, sei lá. - muito do que eu componho dialoga com os conceitos por trás do trabalho dele - arrisco e antes mesmo de 24 horas eu me deparo com:



E daí a gente faz o quê? A gente sorri, aceita e finge que não está surtando. Foram alguns bons dias até essa terça-feira chegar. E toma ensaio... Mas chegou: dia 1 de maio. Beltane. Suits me.

Queria apenas deixar registrado a magia que foi tocar com esse rapaz. Escolhemos pra valer apenas uma peça, mas tocamos quatro - duas das quais improvisamos. O público adorou; e foi estranhamente familiar tocar no teatro do CCBB, um lugar que tanto frequento e tanto amo.

2018 chegou randomicamente épico; e essa minha primeira empreitada vielística já deu o tom do que vem por aí: novidades que até eu particularmente ainda custo a acreditar.






Pós-concerto com fãs e amigos queridos.

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Jhonny Almeida e o Tekerö Brasileiro



Há alguns meses me deparei pela primeira vez com a complicada missão de mediar uma discussão (em todos os sentidos da palavra) no Viela de Roda Brasil, nossa comunidade no Facebook. A problemática da questão é real, atual e relevante não apenas no mundo das vielas brasileiras, mas do mundo: a construção desses instrumentos. Algo que está diretamente ligado ao (im) popular preço das vielas de roda e toda a gama de questões que tais valores trazem à tona.


Pois bem, a questão é eterna: desembolsar uma grana pesada para comprar um instrumento sem saber toca-lo ou pagar pouco mas ter um instrumento em que fica difícil evoluir e estudar parece nos assombrar desde sempre. A especialização de um luthier de vielas de roda é inquestionável, e eu acredito sim que, na dúvida, talvez valha mais a pena aguardar e gastar mais num instrumento mais seguramente bom para estudo.


O tekerö pronto, em toda sua glória. =)
Johnny Almeida, músico e luthier de Cabo Frio, Rio de Janeiro; defende com afinco a valorização daquilo que for feito no Brasil, acreditando no encorajamento de profissionais ou amantes da arte da liuteria - e com conhecimento de causa, ok? Aprendeu muita coisa com um discípulo de seu Darinho, luthier da tradicional loja carioca O Bandolim de Ouro, um caminho que o levou a ser mestre na Oficina Escola de Luteria, em Rio das Ostras;  Johnny já  esteve envolvido em vários projetos diferentes, incluindo a orquestra Kuarup e o CanalizSom (utilização de PVC na confecção de instrumentos), de sua idealização. Muito, mas muito especial!



A grande questão é que Johnny, como todos nós, se apaixonou em algum momento por instrumentos antigos e/ou tradicionais (ele também toca gaita de foles e digeridoo) e também se aáixonou à primeira vista pela viela de roda húngara, o tekerö - e o fez assistindo a uma apresentação do Pablo Lerner (argentino. tocando música nordestina. na viela húngara (!) e teve sua ajuda (incluindo seu tekerö) para construir aquela que eu acredito ser a primeira de muitas vielas. Acho fundamental notarmos que o Jhonny já tinha experiência na confecção de instrumentos e contou com a belíssima e generosa alma do Pablo Lerner para ter um contato com um instrumento bem acabado e proveniente de um luthier de confiança. Parabéns ao Jhonny, seu tekerö significa muito para a história do instrumento, de verdade.

É um verdadeiro presente ter alguém em nossas terras dando um passo TÃO importante no que diz respeito à viela. É necessário - fundamental na verdade - que tenhamos alguém qualificado para dar o ponta-pé inicial nessa etapa.

Mais sobre o Jhonny aqui.