Essa máxima, ainda que clichê ao extremo, é a mais pura verdade para nós, músicos. Temos que ter calma na hora de aprender uma peça nova, na hora de lidar com aquela frase que embola os dedos e o mais importante de tudo, no nosso caso, antes mesmo de morrermos trocando cordas: comprando um instrumento.
A primeira vez que vi de perto a armadilha do eBay pegar alguém, foi quando um rapaz recém-chegado ao mundo da viela não conseguia afinar ou sequer tirar som de seu instrumento. Ao jogar a questão num grupo do Facebook, a decepção: as pessoas apenas diziam que aquilo era um pedaço de madeira e serviria muito bem como lenha para uma fogueira. Palavras duras, mas verdadeiras. Comentários surgindo daqui, relatos dali e voilà: o vendedor em questão já tinha uma reputação super suja no meio da música folk, vendendo instrumentos que iam de pequenos violinos chineses - apresentados como relíquias alemãs - a vielas de roda que encantavam aqueles que estavam começando a se interessar pelo instrumento. Para a sorte deste meu amigo, ele conseguiu seu dinheiro de volta e pôde passar para o modelo Minuet do Mel Dorries, melhor coisa que ele fez. A grande maioria das pessoas, entretanto, não possui essa sorte.
A primeira vez que vi de perto a armadilha do eBay pegar alguém, foi quando um rapaz recém-chegado ao mundo da viela não conseguia afinar ou sequer tirar som de seu instrumento. Ao jogar a questão num grupo do Facebook, a decepção: as pessoas apenas diziam que aquilo era um pedaço de madeira e serviria muito bem como lenha para uma fogueira. Palavras duras, mas verdadeiras. Comentários surgindo daqui, relatos dali e voilà: o vendedor em questão já tinha uma reputação super suja no meio da música folk, vendendo instrumentos que iam de pequenos violinos chineses - apresentados como relíquias alemãs - a vielas de roda que encantavam aqueles que estavam começando a se interessar pelo instrumento. Para a sorte deste meu amigo, ele conseguiu seu dinheiro de volta e pôde passar para o modelo Minuet do Mel Dorries, melhor coisa que ele fez. A grande maioria das pessoas, entretanto, não possui essa sorte.
O mundo da viela de roda parece exigir de nós que vivenciemos certos estágios intensos antes de atravessarmos seus portões: todos nós já tivemos aquele momento de epifania ao ver uma viela e pensar putz, é isso. Preciso. E todos nós já passamos pelo baque do affe, não há luthiers no Brasil? Vou esperar tudo isso de tempo para ter um tesouro desses? Acreditem, sei muito bem como é isso. Todos nós sabemos. É frustrante, tendo em vista que hoje em dia temos tudo que quisermos a um clique de distância. Clique este que não se aplica à nossa donzela do mundo medieval. Ter uma viela de roda boa exige paciência e pesquisa. A dedicação começa muito antes de você encostar no instrumento, o que torna tudo muito mais mágico!
Diferentemente de um violão ou de um violino, quem decide tocar viela de roda PRECISA ter muito mais cuidado na hora de escolher um instrumento inicial. O fato destes instrumentos serem fabricados basicamente na Europa complica muito nossa situação, portanto eu sou adepto do seguinte pensamento: já que vamos pagar em euro de um jeito ou de outro, paguemos logo por um instrumento que seja pelo menos semi-profissional, de modo a evitar que num futuro passemos novamente por todo o processo de juntar uma boa grana e correr o risco de desembolsar mais dinheiro ainda indo buscar um instrumento do outro lado do mundo. O ideal para nós, brasileiros, é fazer bem feito de uma vez só. Concordo que começar com um instrumento super top de linha talvez venha a ser um exagero, mas acreditem: começar com um instrumento tosco ou aquém do necessário não pode gerar nada além de um grande desgaste emocional e uma despesa que nem tão cedo será compensada.
Resolvi fazer este post porque esta semana fui abordado por mais uma pessoa que tem encontrado dificuldades em regular uma viela. Uma moça muito gentil de Goiânia me encontrou e bem, pelas fotos, me surpreendi porque de fato me pareceu um trabalho mais decente que o geral, mas ainda assim, antes mesmo de fazer a pergunta, eu já possuía a resposta: a origem do instrumento era o eBay. Ela provavelmente deu sorte, pois seu instrumento parece ter sido construido de forma mais consciente e cuidadosa. Minha experiência, contudo, diz que o caso dela é uma exceção à regra, isso se de fato o instrumento for regulado em algum momento.
A quantidade de vielas de roda encontradas hoje no eBay pode ser impressionante. No momento, eu conto sete. Para termos uma ideia, a mais cara custa R$35.000, ao passo que a mais barata, super simples e até bonita, sai a mais ou menos R$2,500. Minha pergunta é: vocês realmente acham que essas dezenas de milhares de reais entre estes dois instrumentos é obra do acaso? Não se trata de conversão de moedas, da alta do dólar ou do fato de nossa moeda estar perdendo o jogo. Precisamos entender que a arte de construir vielas de roda é quase que um mistério da liuteria. Por se tratar de um instrumento obscuro e até mesmo renegado ao longo da história, suas tradições no que diz respeito à construção e manutenção sempre foram bem nebulosas; e precisamente por conta dessa dificuldade é que os construtores desses instrumentos dedicam suas vidas inteiras ao estudo e à escuta dos mais diversos instrumentos, das mais diversas tradições que podem vir da Galícia, do interior da França ou da remota Hungria e/ou outros países do Leste Europeu. Cada tradição com especificações e limitações próprias. É necessário entender quem são os grandes construtores, que linhas eles seguem e que tipo de instrumentos eles fazem. Existem vielas tradicionais, existem vielas eletro-acústicas, completamente elétricas, vielas abauladas, trapezoidais, vielas alto e por aí vai. O fato de vermos algo que tem teclas, roda e manivela não significa de modo algum que estamos lidando com um instrumento musical. Evitem colocar o carro na frente dos bois.
Se por um lado a utilização do eBay facilita o encontro entre o aspirante a vielista e seu instrumento, essa via também oferece riscos e pegadinhas o tempo todo, expondo à pessoa a instrumentos que seduzem pelo preço e pela aparência exótica. Detalhes ornamentais que hipnotizam alguém que ainda não compreende tudo que está em jogo pra o resultado sonoro de uma viela de roda, como alguns dos aspectos de sua "anatomia" - as tangentes, por exemplo- fundamentais para a afinação.
Verdade seja dita, eu fico meio chocado ao ver vielas de construtores famosos como Wolfgang Weichselbaumer e Balázs Nagy em um site como o eBay. Os preços de fato parecem confirmar suas origens e DEVEM ser levados em conta; mas ainda assim, são exceções e são vielas de segunda mão (o que é bom). Já a grande maioria - ou melhor, todas - as vielas baratas encontradas nesses sites são verdadeiras armadilhas (geralmente do leste europeu) construídas de qualquer jeito e sem nenhuma pretensão de gerar um som que satisfaça um músico. Por favor, pesquisem, procurem luthiers, assistam videos no youtube e procurem músicos em comunidades online. Temos - dentre outros grupos - o Viela de Roda Brasil, temos o Hurdy-Gurdy Player e o Club Vielle à Roue, cheios de pessoas mais experientes.
Para finalizar, os deixo com pequenos vídeos de diferentes vielas. Apenas a titulo de curiosidade, comparem aspectos físicos - esses "instrumentos" problemáticos geralmente são diferentes da maioria das vielas, parecem mais rústicos, suas rodas são instáveis - e atentem às diferenças entre os aspectos sonoros também.
Verdade seja dita, eu fico meio chocado ao ver vielas de construtores famosos como Wolfgang Weichselbaumer e Balázs Nagy em um site como o eBay. Os preços de fato parecem confirmar suas origens e DEVEM ser levados em conta; mas ainda assim, são exceções e são vielas de segunda mão (o que é bom). Já a grande maioria - ou melhor, todas - as vielas baratas encontradas nesses sites são verdadeiras armadilhas (geralmente do leste europeu) construídas de qualquer jeito e sem nenhuma pretensão de gerar um som que satisfaça um músico. Por favor, pesquisem, procurem luthiers, assistam videos no youtube e procurem músicos em comunidades online. Temos - dentre outros grupos - o Viela de Roda Brasil, temos o Hurdy-Gurdy Player e o Club Vielle à Roue, cheios de pessoas mais experientes.
Para finalizar, os deixo com pequenos vídeos de diferentes vielas. Apenas a titulo de curiosidade, comparem aspectos físicos - esses "instrumentos" problemáticos geralmente são diferentes da maioria das vielas, parecem mais rústicos, suas rodas são instáveis - e atentem às diferenças entre os aspectos sonoros também.
Viela de roda ucraniana, com anúncio no eBay.
O som claramente tratado.
Uma viela Weichselbaumer, das mais caras.
Modelo do galego Jaime Rebollo, uma opção um pouco mais em conta
e de qualidade.
No mais, desejo a todos muita boa sorte e muita paciência. Acreditem, pesquisar e aguardar o instrumento certo é a melhor decisão a se tomar.
Logo mais volto com novidades muito legais.
Vielisticamente,
;-)
O som claramente tratado.
e de qualidade.
No mais, desejo a todos muita boa sorte e muita paciência. Acreditem, pesquisar e aguardar o instrumento certo é a melhor decisão a se tomar.
Logo mais volto com novidades muito legais.
Vielisticamente,
;-)
very good, Rique! - thank you very much. sorry to miss this for the last edition of #HGWeekly, but will post it up this week! Cheers!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirGostaria de saber onde encontro para compra a Viela de Roda...
ResponderExcluirRique, você poderia me passar o contato da moça de Goiânia que te procurou? Também sou de Goiânia, e estou perdida com tantas dúvidas. Seu blog é ótimo! muito bem elaborado (e esclarecedor).
ResponderExcluirOi, Laura. Você comprou uma dessas vielas? Me adiciona no facebook que te coloco em contato com a Beatriz. Eu estou como Rique Meirelles, mesmo.
Excluirbjs e obrigado pelo comentário!