Se há algo que eu aprendi nesses poucos meses em que tenho estudado viela de roda, é que
A viela é madeira pura, praticamente. Sendo assim, ela está inevitavelmente vulnerável às mudanças de clima, temperatura e umidade. Esse era um dos meus maiores medos quando trouxe ela de fora do Brasil. Imaginem só, deixar o outono galês, enfrentar mudanças de pressão devido aos vôos e ainda parar no Brasil, em pleno verão carioca. Complicado... Mas ainda assim, sobrevivi, e a viela também, que se comportou muito bem até o verão começar a se esvair. (sendo que eu sempre - SEMPRE - soube que mais cedo ou mais tarde a umidade ia voltar e me dar um belo chute no traseiro. Pois é, esse dia foi hoje.)
Mas não posso reclamar porque fui devidamente avisado a respeito do efeito da umidade na viela, principalmente no que diz respeito às teclas. Entretanto, antes de qualquer coisa, tenhamos em mente que o ato de tocar uma viela exige que empurremos a teclas para cima; e elas, por sua vez, voltem aos seus lugares devido seguindo a gravidade, sem esforço algum. Por conta disso, elas precisam estar soltas e leves em seus espaços, deslizando mesmo, de modo que, visto "de cima", na posição de tocar, a caixa de teclas fique assim:
Até aí, tranquilo, eu imagino. Essa visão inclusive nos auxilia no início da prática, já que podemos ver que teclas estamos acionando e como elas retornam às suas posições de origem.
Contudo, uma vez que a umidade entra em ação, as alterações nessa maciez das teclas é palpável, então é comum que algumas teclas passem a emperrar, levando um tempinho maior para retornarem às suas posições. Quando isso acontece, nossa primeira reação é praticar todo nosso repertório de palavrões ficarmos tensos, preocupados e o pior: sem saber como proceder.
Pois bem, a primeira coisa a se fazer é manter a calma. Vielas são instrumentos temperamentais e extremamente sensíveis a qualquer tipo de mudança, então a situação é natural e previsível.
Passado o pânico, você vai precisar de poucos itens: duas lixas para madeira (uma grossa e uma mais fina, para acabamento) e um lápis 6B (ou grafite em pó).
Uma vez que a tecla problemática for localizada, nós abrimos a caixa de teclas e marcamos com um lápis a posição de suas tangentes. Isso é estritamente necessário, já que vamos retirar a tecla e tratá-la (sim, ouço seus gritos daqui e sinto muito) e colocá-la de volta. Certifique-se de que as tangentes, uma vez fora da caixa, permaneçam na mesma disposição, ou seja, não confunda aquelas que pertencem à primeira fileira, com as da segunda. Cada uma deve voltar ao seu lugar.
É claro que estes passos são aconselháveis para teclas que não estão emperrando tanto. Algumas vezes elas podem ficar realmente presas, aí o melhor a se fazer é pegar um pequeno ... erm... raspador de madeira? E tirar muito (mas muito!) POUCO da área mais lustrosa da tecla. Essa foi a forma que o querido e inesquecível Chris Allen me ensinou, mas se mostrou necessária apenas em uma das minhas teclas, e uma que eu mal uso, que é a penúltima. Nas outras duas teclas em que precisei trabalhar, esses passos com a utilização da lixa (sugestão do grande Augusto Ornellas) foram mais do que úteis, me deixando bem satisfeito.
E é isso, boa sorte com suas teclas e logo estou de volta para tratar do pesadelo algodão que utilizamos em nossas cordas.
;-) See ya,
Rique