sábado, 5 de maio de 2012

No Brasil II (pero no mucho) - Carolina Magalhães e Sua Symphonia



Minha primeira experiência efetivamente física com uma viela de roda (na verdade com uma symphonia) foi em 2010. Na época eu estava fazendo um curso de extensão universitária (uma espécie de introdução ou visão geral da música medieval Européia) no meu Conservatório, ministrado pela cantora brasileira Carolina Magalhães, que veio da França especialmente para a ocasião. Devo dizer que foi uma das experiências mais interessantes que já vivi. O curso foi maravilhoso.

Lembro-me de ir ao conservatório todas as manhãs, por quinze dias, cheio de frio na barriga por conta dos exercícios de aquecimento que fazíamos religiosamente antes de começarmos as aulas. Estes consistiam, na maioria das vezes, em ficarmos em um círculo, entoando uma ou duas notas em conjunto (um bordão, ou drones) enquanto um de cada vez improvisava uma curta melodia no modo musical proposto por Carolina. Apesar de eu realmente ficar tenso (tenho issues com o ato de cantar em público), uma vez começado o exercício, tudo ficava pra trás. Sentia uma paz que queria para sempre, como se eu estivesse dentro de uma imensa catedral Alemã em pleno século XII, só que com a visão da Baía de Guanabara ao fundo, cercada por prédios típicos do centro do Rio de Janeiro. Todas as manhãs daquele curso foram assim.

E foi numa da primeiras manhãs, em uma das primeiras aulas introdutórias os modos gregorianos, que Carolina levou sua  symphonia. Meu choque foi imediato, porque eu já havia começado minha saga pessoal (risos) e entrado em contato com o luthier que viria a me vender o meu instrumento. Na verdade eu só me inscrevi no curso porque sabia que algumas aulas seriam dedicadas à instrumentação medieval. Além disso, eu já estava há quase seis meses num processo de espera, com a mente focada no meu instrumento de uma forma incontrolável. Então ver a symphonia foi como ver uma celebridade que eu vinha adorando há anos, mais ou menos. Eu tive que tomar muita coragem para efetivamente explicar à professora que estava para começar a estudar a viela e pedir permissão para tocar aquele instrumento (o que só foi acontecer lá pro final do curso). Tinha muito medo de perder o encanto (ahah as if); e apesar de eu ter a impressão de que isso pode ter quaaase acontecido (o instrumento dela era realmente meio chatinho de tocar, em termos de qualidade mesmo) eu persisti e passava os últimos intervalos do curso num cantinho da sala, apenas girando a manivela e ensaiando uma nota ou outra que, aliás, soavam terríveis.

Essa experiência, no fundo, serviu mesmo para botar mais lenha na minha fogueira. Aprender um pouco mais sobre o repertório medieval foi ótimo. Estudar sua notação - com toda sua beleza e seus pontos obscuros foi especialmente interessante. E ouvir réplicas de instrumentos feitas por alguns dos meus colegas de curso lindo, lindo, lindo. Tocar a symphonia, enfim, foi como dar um primeiro beijo - algo meio sem jeito, meio sem graça, mas ainda assim, cheio de magia. =)

Carolina Magalhães é professora de canto em Estrasburgo, França; e além de cantar no magnífico Ensemble Musica Nova, também faz parte do projeto Alma Brasileira, cujo vídeo fecha este post.




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