segunda-feira, 7 de maio de 2012

O Método Cardiofônico: Germán Díaz, manivelas, motores e corações



A teoria de que a música pode estar nos nossos genes como uma pré-disposição dialoga com muitas ideias interessantes que flutuam por aí. Não vou entrar em detalhes e, por favor, longe de mim criticar esta posição. Eu realmente acredito que seja o caso, já que a música como conhecemos e aceitamos, como tudo que exige criatividade, só pode ser feita por nós, seres humanos.

Muito se fala sobre a influência que a música exerce sobre os ambientes, sobre as pessoas e plantas... Muito se fala, em suma, sobre sua influência em células vivas. E eu acredito sim nisso tudo. Eu sei porque desde muito pequeno eu sofro e venho sofrendo essas influências (a ponto de ter todo o curso de minha vida alterado pelas mesmas).  E esse é o poder da música, no fim do dia.

A música na gestação, por exemplo, é algo que eu acho fundamental. Aliás, é na gestação que sentimos (e ouvimos?) nossos primeiros sons, sendo destes as batidas do coração o primeiro. Por isso eu julgo o assunto deste post algo lindamente poético: não há nada mais brutalmente vivo que um coração pulsando. E ao que parece, este é também o caso para o grande vielista espanhol Germán Díaz.

Minha história com o artista em questão é engraçada. Quando conheci seu nome e seu trabalho, me dei conta de que é ele quem encabeça, ao lado de Pascal Lefeuvre, o cd Dúo de Fuego, pelo qual eu já era apaixonado há um bom tempo. Ele tem um jeito de tocar muito energético,  desses que nos dá vontade de sair dançando, de verdade. Aliás, justamente por causa de seu som energético e preciso é que seu talento nunca passou despercebido por mim. A surpresa, aqui, se dá ao fato de eu não ter contado com tamanha criatividade e poesia.

Como se tocar uma viela de roda já não fosse inusitado o suficiente, Germán Díaz, que é, por sinal, um verdadeiro gênio e virtuoso da zanfona (galego para viela de roda), vai muito além. O projeto, chamado Método Cardiofónico, une diferentes instrumentos de manivela a um vinil gravado nos anos 30 por um -  pasme - médico que tinha como objetivo o registro dos batimentos cardíacos de seus pacientes para fins puramente acadêmicos. Tá, que eu concordo que trabalhar com batidas de corações que já estão mortos é algo meio mórbido, mas acho que o lado poético da coisa fala muito mais alto.

O coração é, em algum nível muito fundamental, o símbolo primeiro de vida pulsante. Utilizá-lo na música deveria ser mais que natural para nós, então fiquei meio chocado com o tipo de sentimento de surpresa que este projeto despertou em mim.

Nota mental: mais coração na música.

Sempre. 


2 comentários:

  1. Rique, o Germán leu aqui e curtiu seu blog lá no face dele... Eu o conheci pessoalmente quando trouxe minha zanfona - fui na casa dele, trocamos umas idéias e depois fomos jantar com mais outros zanfonistas lá em Compostela!

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