quinta-feira, 26 de abril de 2012

Como tudo começou antes de começar de verdade


Calling, yearning, pulling... Home to you - A sensação que eu tenho é que eu sempre fui carregado por ventos favoráveis. Me considero muito sortudo, talvez abençoado. O fato é que minha vida musical não é fácil de ser descrita devido às minhas escolhas, que sempre, direta ou indiretamente, me levaram a outros mundos (e sim, eu digo isso quase no sentido literal).

Tudo sempre ocorreu e vem ocorrendo num movimento de uma-coisa-que-puxa-outra tão complexo e tão lindo que fica realmente difícil marcar o ponto exato em que certas coisas entraram em cena. Eu não posso dizer que um belo dia, enquanto eu estava jogado no sofá de minha sala, ouvi um hurdy-gurdy na televisão e pensei "A-ha!". Na verdade eu já ouvia o instrumento há um bom tempo, principalmente no repertório galego. E eu, como muitos, sempre caía no lugar comum (literalmente comum, e nem digo isso de uma forma pejorativa) de inferir que o que eu ouvia era "apenas" uma gaita de foles em uníssono com um violino. Às vezes eu arriscava pensar que se tratava até mesmo com uma nyckelharpa, instrumento com o qual eu já era familiarizado devido ao som de "clec-clec" produzido pelo ataque de suas teclas nas cordas. De qualquer forma, ambas as teorias eram equivocadas e não demorou muito para que o choque de me deparar com um instrumento desconhecido fosse recebido por mim como o tapa na cara mais bem-vindo na história do mundo.

Foi em 2006, quando eu já tovaca na Lagrima Flor e ia muito-bem-obrigado no rumo que eu e meu violino estávamos tomando, que eu comprei o DVD da Loreena McKennitt (Nights from the Alhambra). Apesar de já saber que eu ficaria embasbacado (afinal, né? Loreena faz isso com as pessoas) eu me surpreendi de uma forma indescritível ao ver nossa amada viela de roda. Eu pude literalmente enxergar aqueles sons. Executando um solo absolutamente épico, Nigel Eaton (um dos maiores virtuosos do instrumento no mundo) me fez não só amar aquilo, mas encontrar aqueles sons dentro de mim e querer cuspi-los, externalizá-los de alguma forma. É uma sensação bem estranha. Só ouvir não é suficiente. É como um vício, uma vontade absurda que você aparentemente sempre teve e nunca pôde saciar. Algo que até hoje eu não sei descrever muito bem - e por isso mesmo quando alguém se refere ao "feitiço" do hurdy-gurdy eu não acho brega. Eu senti na pele e decidi instintivamente: um dia um daqueles seria meu.

Foi o primeiro golpe na manivela da história mais épica da minha vida.


Um comentário:

  1. Loreena McKennitt realmente encanta, e este DVD dela é maravilhoso, dá pra ver a viela trabalhando com os sons perfeitamente *-*

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