terça-feira, 15 de maio de 2018

Cellar Darling no Brasil


Rio de Janeiro. Teatro Rival, na Cinelândia. O camarim é o mesmo que ocupei com o Café Irlanda já duas vezes em noites de São Patrício. Tudo é familiar: o backstage, os corredores, o cheiro de centro da cidade na Cinelândia, com seus becos e botecos. O porém (muito bem-vindo) fica por conta da qualidade onírica do objeto que tenho em meu colo: um hurdy-gurdy branco. Que sonho, dá mega pra praticar tarde da noite, eu falo e ela ri concordando. O modelo é o Accento, construído por Sebastian Hilsmann, meu querido luthier. Por um segundo, o frio na espinha: o instrumento é colocado em outra cadeira e eu tremo só de pensar numa queda, num esbarrão. Eu vivo fazendo merdas assim, diz Anna, sorrindo. Eu rio desse jeito de menina desastrada - até mesmo um pouco insegura - que ela tem. O mais legal é que isso não anula a mulher magicamente badass que ocupa os palcos conduzindo a mágica de Cellar Darling, sua atual banda, que em menos de dois anos de surgimento trouxe um álbum maravilhoso e já tocou em diferentes países, sempre aclamados.

O gurdy em questão pertence à Anna Murphy. Força criativa da natureza (título dado por seu colega de banda Merlin), Anna só fez despontar no mundo da música desde o dia em que caiu nos feitiços da viela de roda. O momento no camarim, entretanto, foi apenas a cereja no bolo, uma vez que nosso papo havia começado bem antes desse momento, ainda num boteco obscuro da Cinelândia. Difícil de acreditar que isso rolou, na real. Já nos falávamos mais ou menos antes - até meio que já nos cruzamos, sem que ela soubesse. Há alguns anos eu havia encomendado o Largo por uma emergência (meu gurdy na época havia quebrado, e eu estava na Suíça) e ao voltar de lá eu vi que ela também estava tocando um Largo, achei a coincidência bizarra, uma vez que fui parar no Sebastian por indicação da Tobie Miller, que é de um outro universo musical. Inclusive queria ter trocado uma ideia com Anna sobre isso no último show dela com o Eluveitie aqui no Brasil, em 2015; o que não rolou. E fora isso, sempre trocamos algumas mensagens e comments no insta. 

Anna Murphy é incrivelmente gentil e inteligente; a sensação que tenho é de que tudo que ela fala sempre parece dizer mais do que ouvimos. Cheia das entrelinhas e comentários diretos e honestos (the meat here is so fucking good, man), Anna é de longe a artista mais pé no chão - e, na boa, ao mesmo tempo a mais etérea - com quem já conversei; e é essa incongruência maravilhosa que a torna esse furacão: a mesma pessoa que fala sobre como é foda juntar dinheiro depois de começar do zero para dar de entrada num instrumento, fala de um mundo abstrato de (re)cortes e melodias que vem de algum lugar muito profundo e misterioso; onde línguas se fundem e notas e histórias vem à tona. A realidade e a surrealidade se mesclam. Seus olhões azuis absorvem tudo que a gente fala, sempre atentos. Por alguns bons minutos não fazia sentido ela estar sentada ali na cinelândia com os rapazes da banda. E foi super estranhos eles irem passar som ALI NO RIVAL e ela ficar ali comigo chatting over caipirinhas.  2018 realmente veio cheio das surpresas.

Dinheiro, música, criatividade, cordas reafinadas em notas incomuns, comida, planos, medo de arriscar, caipirinhas e bagagens de mão foram alguns dos tópicos que contemplamos em nossa conversa.  Murphy fala como o próximo álbum de sua banda vai ter muito mais viela de roda, um instrumento para o qual ela sente em algum nível que sua música não é feita. Comentário para o qual rebati um alto e sonoro WHAT. Como assim, sabe? Mas Anna não desaponta e reafirma: o primeiro álbum foi muito tímido. Nesse viremos com força total. Vibro.

É muito bom entrar em contato com a fonte de tanta magia. Magia essa que encantou cada pessoa que estava no Teatro Rival ontem. Da primeira nota na guitarra de Ivo em Black Moon à ultima notinha de Challenge, todos foram sugados pela roda do gurdy branco. Não adianta tentar fugir.  Para mim foi uma festa, gritei sem medo de ser feliz. Nunca esperei vê-los tão cedo na vida; e o show foi uma das performances mais perfeitas que já vi - e isso vindo de alguém que já viu coisas impressionantes como sei lá, Sigur Rós. 

Impossível destacar apenas uma parte, mas se eu realmente realmente precisasse eu faria uma menção honrosa à execução de Redemption, minha música favorita do álbum, canção que compensou a ausência de Hedonia, a única música do álbum cantada em alemão suíço.

Do momento em que essa galera deixou sua antiga banda ao momento que desceram do palco aqui no Rio, a trajetória deles não deve ter sido nada menos que uma tempestade de emoções. Para mim, provar um pouco de toda essa energia em um set de uma hora foi absolutamente inesquecível. Técnica impecável, presença, simpatia e uma vibe boa que somente artistas fazendo show no Brasil podem sentir. Cellar Darling me impressionou ainda mais. 




sexta-feira, 4 de maio de 2018

Rio Harp Festival - Participação com Athy



O ano é 2009. 

Eu vivo e respiro meios de conseguir uma viela de roda. Banda começando, ideias, ideias e ideias. Para a galera da ~cena celta ~, naquela época ainda meio afastada e com menos opções ainda do que fazer, um pequeno oasis chega: Rio Harp Festival.

Música e magia no único ensaio que rolou.
Foi em 2009 que estive no festival pela primeira vez; e sem conhecer nada de nada, fui guiado pela minha amiga Ra para o show que atraía bastante público: Athy. 

Argentino apaixonado (e vindo diretamente) pelo mundo feérico, Athy sempre causou certa comoção em seus shows devido ao seu estilo obscuro e místico, delicado e muitas vezes sensual - nesse show especificamente ele tirou a camisa risos. Sua música, de acordo com ele, está aqui para trazer mensagens de outras dimensões. Todas elas devidamente captadas por seus fãs. Piadas à parte, curti o show (também rs) e comprei minha cópia de Sabour a Tiershra, ótimo álbum, companheiro de tardes e mais tardes de pensamentos e devaneios (e de algumas consultas de tarô - don't ask).

POIS DAÍ CORTA PRA 2018

Eu às voltas na madruga sem conseguir dormir devido ao não-tão-impulsivo-porém-ainda-louco ato de começar a lançar meu projeto "solo" dou de cara com um simples flyer anunciando um show do Athy em Ilha Grande. Penso rindo TAÍ, NÉ, sei lá. - muito do que eu componho dialoga com os conceitos por trás do trabalho dele - arrisco e antes mesmo de 24 horas eu me deparo com:



E daí a gente faz o quê? A gente sorri, aceita e finge que não está surtando. Foram alguns bons dias até essa terça-feira chegar. E toma ensaio... Mas chegou: dia 1 de maio. Beltane. Suits me.

Queria apenas deixar registrado a magia que foi tocar com esse rapaz. Escolhemos pra valer apenas uma peça, mas tocamos quatro - duas das quais improvisamos. O público adorou; e foi estranhamente familiar tocar no teatro do CCBB, um lugar que tanto frequento e tanto amo.

2018 chegou randomicamente épico; e essa minha primeira empreitada vielística já deu o tom do que vem por aí: novidades que até eu particularmente ainda custo a acreditar.






Pós-concerto com fãs e amigos queridos.