sábado, 19 de janeiro de 2019

Viagem a Osasco e as Vielas do Elz Guitar


É sempre muito louco pensar que a viela de roda já existia há séculos antes mesmo do Brasil ser "descoberto". Mais louco ainda é saber que apenas agora esses instrumentos estão começando a aparecer por aqui, sendo feitos pelas mãos de brasileiros. O post de hoje é sobre mais um deles: Eduardo Luz, de Osasco, São Paulo.

Atelier do Edu, em Osasco
Eduardo trabalha como luthier de guitarras e baixos desde 2012; e tem como objetivo a ideia de expor a beleza e a sonoridade das madeiras nacionais. Descobriu nosso amado instrumento assim, do nada, como a maioria de nós. Graças ao César Augusto Santos (que não surpreendentemente) estava com dificuldades de conseguir um instrumente, Eduardo pôde não apenas ouvir falar, como também receber uma planta e uma série de informações técnicas para que um gurdy fosse construído. Loucura, né?

Eduardo Luz, eu e César Augusto. Gravação de um vídeo.
Após ter feito este primeiro instrumento, Eduardo tomou como base estética o modelo Henri III e construiu o instrumento que ele batizou de Tulip; com duas oitavas, dois trompettes, dois bordões e duas cordas melódicas. Esse primeiro instrumento foi adquirido por André Maziero, em São Paulo capital.

Mais alguns gurdies foram feitos - o segundo Tulip e um outro instrumento - e hoje ao que parece oito já foram feitos e entregues, se não me engano. Vou deixando ao longo do post algumas das fotos que estão na página do Edu no Facebook. Um trabalho bem bacana e um esforço legítimo e relevante para a história do instrumento aqui no Brasil.


Estou escrevendo esse post alguns dias após meu retorno de Osasco, onde estive para dar uma olhada nos instrumentos do Edu, gravar uns vídeos com um gurdy dele e ainda gravar um vídeo/papo com ele e o César, pessoa responsável por levar uma planta de viela de roda ao Edu. César está se preparando para lançar o primeiro canal brasileiro no youtube dedicado ao instrumento, algo que também precisamos. Ao que parece nosso vídeo será o primeiro do canal, estou animadíssimo! Com certeza vai ser uma fonte maneira de informações para os entusiastas do gurdy aqui do Brasil.

Beleza, Rique, mas e aí? E o gurdy desse cara, o que você achou? 

Eu não vou negar que a diferença entre nosso trabalho aqui no Brasil e o trabalho dos gigantes lá de fora ainda é grande, não podemos fugir disso. Mas isso é apenas natural, uma vez que lá fora temos profissionais que vivem e respiram essa arte há muitos anos. 

Por outro lado, nem todo mundo está disposto (ou na real pode) pagar milhares de euros ou dólares num instrumento - fora a importação ou a necessidade de ir ATÉ LÁ FORA buscá-lo. E vale lembrar que o Edu não é um vielista e caiu de paraquedas nesse mundo - e já acertando em vários aspectos. Isso me enche de certeza de que seus instrumentos só vão melhorar com o tempo, o feedback de seus clientes e o estudo dessa verdadeira arte quase hermética que é construir vielas de roda. 

DITO ISSO, eu devo dizer que o meu parecer é mais positivo que negativo. Gostei especialmente do teclado no que diz respeito à precisão e afinação das notas mais agudas - um problema em quase todos os gurdies - e do som das cantoras em uníssono. Achei as teclas bem macias, fáceis de tocar. Parte do meu estranhamento está no fato de eu estar acostumado com outro instrumento, que tem tangentes (as pecinhas acionadas pelas teclas, que batem na corda) que não são de madeira e isso também conta. Não tive tanto tempo para me familiarizar com a viela do Edu, que aliás pretende experimentar outros tipos de cordas, tangentes e materiais; coisas que fazem toda diferença. Eu acho que ele está no caminho correto; e hoje, aqui no Brasil, ele foi o que mais acertou em termos de construção. (na verdade ele e o Johnny Almeida, sobre quem escrevi aqui)


Outro fator importante a ser levado em conta é a dificuldade de manutenção do instrumento. Isso é algo muito sério, e devemos ter isso em mente mesmo ANTES de adquirir QUALQUER instrumento, seja de qual procedência for. Não adianta pegar uma viela de roda de 15.000 euros se você não tiver a paciência e sensibilidade para lidar com a eterna equação que é trabalhar a quantidade de algodão nas cordas, a resina na roda, a pressão das cordas etc (ontem mesmo passei HORAS lidando com essa porra risos pardon my French). Essas são coisas que talvez pesem um pouco para quem nunca teve contato com o instrumento e vai desembolsar uma grana para "ver qual é". 

Infelizmente o fato é que a viela de roda não é algo fácil de se construir, e não é apenas pegar o instrumento e sair tocando. Leva-se algum tempo até a coisa começar a andar. 

Paciência, calma e determinação são fundamentais.

No mais, poder tocar um gurdy brasileiro, dar um feedback voltado pro Edu - visando o futuro de seu trabalho - e poder trocar ideia com gente que ama esse instrumento tanto quanto eu foi incrível. Eu fico muito feliz em ajudar  quem quer que seja que esteja contribuindo para o mundo desse instrumento. 

E literalmente retornei ao Rio com a garganta doendo de tanto falar.=D




Deixo aqui meu agradecimento e meu abraço apertado ao Edu Luz, ao César e ao Walmir, tão atencioso em seu estúdio. Foi um dia muito especial. 

Até logo, com mais novidades!