terça-feira, 12 de junho de 2012

A Saga da Viela V - Brazil Celtic Festival

Como lidar?
Na Irlanda nós precisaríamos fazer algumas aulas em nossos instrumentos; e também teríamos que visitar sessíuns tradicionais, alugar um carro e fazer uma road trip pelo país. Tudo isso era abordado da forma mais natural possível pelo Davi, bodhranai do Café Irlanda, que vivia falando coisas do gênero antes de qualquer passeio estar sequer programada. Eu só ria e pensava nossa, que sonho que seria viver isso. E ele afirmava com toda certeza do mundo: nós vamos à Irlanda ainda esse ano

Tudo começou por causa de um festival chamado Brazil Celtic Festival, que ocorreria na Bahia e do qual ouvimos falar através de uma amiga. Alguns artistas irlandeses viriam a Salvador para alguns shows enquanto artistas daqui iriam para lá seguindo a mesma ideia. A princípio, nosso intuito era apoiar o projeto de todas as formas possíveis (realmente acredito nesse espírito de músicos folk brasileiros se ajudando. Nós precisamos desse tipo de companheirismo, já que somos tão poucos), então apenas ajudaríamos a procurar algum tipo de patrocínio e tentar trazer o evento também ao Rio de Janeiro, o que infelizmente não ocorreu devido à indisponibilidade de espaços e à falta de tempo, já que estava um tanto em cima

De qualquer forma,  como uma forma de agradecimento e apoio, os produtores nos convidaram oficialmente (havia inclusive a carta de um parlamentar irlandês que apoiava o evento) a participar da etapa internacional do festival, em Dublin. Obviamente, nem tudo seria por conta deles, o que inevitavelmente implicaria em desembolsarmos alguma grana - ainda mais com tantos planos como aulas e road trips

Eu realmente não achei que aquilo fosse possível. Antes de qualquer coisa, eu ainda não havia recebido o resto do dinheiro necessário para uma viagem internacional. Além disso, eu havia acabado de conseguir um bom emprego, novinho em folha e já teria que pedir pelo menos uma semana de faltas para conseguir realizar esse sonho. Para a felicidade geral do Café Irlanda, o festival coincidiria com um feriado prolongado aqui no Brasil - de exatamente uma semana - fazendo com que no fim das contas eu só perdesse dois ou três dias de trabalho. Só isso, aliado aos convites, foi suficiente para Kevin e Davi já comprarem suas passagens. A coisa, entretanto, se concretizou quando todas as pessoas que poderiam me substituir no trabalho concordaram (anjos!) em me ajudar. Era isso: substituições no gatilho, convite para o festival, passaporte tirado desde 2009 (rs), cartão de crédito, Davi-cabeça-dura e.... Voilá: um dia antes do meu aniversário minhas passagens para a Irlanda estava compradas. Um misto de coisas girando em minha mente; e não pensem que tudo estava resolvido. A única coisa que faltava era justamente o dinheiro para meu hurdy-gurdy, e era isso que gerava uma certa tensão que brincava com o conceito de pedra no sapato.

Alguns dias ainda se passaram até meu coração pseudo-se-acalmar. Tudo já estava pronto: malas, documentos, reservas em albergues (para os dias que não fossem o do festival), aluguel do carro e... Passagens. Muitas dessas coisas foram acertadas com a banda toda junta, em dias de ensaio. Nunca esqueço do dia em as passagens para Gales foram compradas - antes mesmo de eu ter o dinheiro para o gurdy em si. Eu não sabia como tudo se resolveria, mas tinha certeza - de verdade, com fé mesmo - que aquela viela seria minha. Me segurei nesse pensamento com uma força que eu nem sabia que tinha, até que recebi, 15 dia antes de embarcar, o tão esperado dinheiro.

Minha viela estava ali, em cima da cama.

Dentro de um envelope.



Um comentário:

  1. Te amo, e chorei aqui com o "Minha viela estava ali, em cima da cama. Dentro de um envelope."

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