Sábado, 19:30 PM. Ipanema. Uma senhora sisuda e austera passa por nós de cara amarrada. Mais uns passos à frente para, olha pra trás e retorna. Gelei. Essa daí não gostou, não, penso.
- Que engraçado. Que instrumento é esse?
- É uma viela de roda.
- Nossa... Que inusitado. Parabéns, vocês são inusitados. Essa foi a coisa mais inusitada que vi hoje.
- Obrigado! =)
Ela se retira - dessa vez com um sorriso no rosto - para ceder ao impulso por uma segunda vez e voltar pro nosso cantinho.
- Olha, toma: não é dinheiro, não. Mas é inusitado também.
Assim eu e Pedro concluímos mais um dia de busking nas ruas do Rio. Ele com sua flauta doce, eu com minha viela de roda. Terminar o dia recebendo arte em troca de arte foi um momento extremamente especial, e agora dividimos a custódia da inusitada tela que abre este post.
Feirinha do Lavradio |
Busking. Taí uma coisa que nunca havia pensado que ia amar fazer na vida. Ultimamente eu tenho refletido muito sobre a música que toco e o que quero, e tocar nas ruas é um ótimo lugar para fazer música de forma leve e descompromissada. Me ajuda a pensar. Além de ser também uma ótima forma de estudar sem se sentir muito observado - meus vizinhos obviamente sabem muito bem quando estou ensaiando, ao passo que na rua o meu público muda a cada alguns minutos.
A ideia é aparecermos aos fins de semanas em alguns pontos bem característicos, como a feirinha da rua do Lavradio, na Lapa; a rua Voluntários da Pátria, em Botafogo ou a praça General Osório, em Ipanema.
Essa experiência tem sido cada vez mais enriquecedora. Pessoas de todos os tipos param e ficam encantados pelo som da flauta com a viela, principalmente as crianças. O mais interessante é ver como algumas reações são previsíveis: durante algum tempo a sensação é de ser invisível. Ninguém dá a mínima... Até uma pessoa interromper seu trajeto e parar. Basta UMA alma fazer isso para que outras tomem coragem e parem, sorriam e te abordem. =)
Sei que pode parecer besteira, mas fica meu registro. E meu agradecimento às pessoas que chegaram aqui após pararem e terem tido a curiosidade de me perguntar sobre esse instrumento fascinante. Com o tempo vou postando uma pequena agenda dos locais e horários em que estaremos nas ruas com nosso pequeno projeto itinerante.
Vielisticamente,
;-)
Estou simplesmente explodindo de felicidade de saber que você aderiu ao saltimbanco. Já tem três anos que toco viela de roda aqui nas ruas de Curitiba, e todo dia é uma aventura diferente, seja por coisas boas ou coisas ruins. É incrível a sensação de se misturar ao ambiente e se tornar invisível, mesmo quando você está fazendo algo que ironicamente chama tanta atenção; e quando alguém quebra o "silêncio" e ainda por cima faz uma doação depois de julgar que qualquer aprendizado que foi passado da gente para ela é importante, nossa, trabalho feito, né?
ResponderExcluirEu encorajo todos os músicos a pelo menos tentar uma vez a tocar pelas ruas. Meu primeiro aluno de viela de roda é também um accordeonista incrível, e um belo dia andando distraída pelo centro da cidade, vejo ele tocando feliz e descompromissado. Senti uma coisa boa. E agora não sou mais a única vielista oficial a tocar pelas ruas do país! Rique, você me inspira e me surpreende sempre. Não desista nem fuja das ruas. Nós não somos músicos da rua; a rua é nossa.
Beijão da louca da viela <3
Raine