quarta-feira, 17 de julho de 2013

Vielista


Desde que eu comecei nessa estrada tão incomum da viela de roda as pessoas vivem me perguntando se eu prefiro a viela ou o violino. Eu sempre digo que para mim é tudo música, e cada instrumento, à sua forma, uma parte continental de mim. São meus braços e minha voz. 

Partindo para um lado mais dramático, essa questão sempre me assombrou um pouco. Primeiro porque a resposta sempre foi muito clara para mim, segundo porque ela sempre soou, sim, errada de certa forma. Não se pode escolher entre dois braços, certo? - Errado. Nós sempre teremos um braço direito. Ontem eu aceitei isso.

Eu sempre penso num incêndio; no desespero de pegar o que mais importa e fugir, de poupar aquilo que significa mais para mim - e sim, quando esse filme passa pela minha mente eu sempre pego o estojo da viela antes de qualquer coisa. Isso soa tão infantil, mas eu sempre deixei essa história de lado, porque nunca precisei confrontar essa preferência de verdade. Eu toco numa banda de música irlandesa que eu amo de uma forma que não cabe em palavras. Eu cheguei a essa banda através do violino, e através do gosto iniciado e encorajado pelo mesmo, cheguei à viela e tenho vivido coisas maravilhosas - o que me torna uma espécie de traidor ao preferir cegamente a viela ao meu bom e velho violino, companheiro de tantos anos through thick and thin. O fato é que eu nunca deixei de amar o violino, e eu me sinto absolutamente feliz toda vez em que pego o píseog ou o trevo, seja para ensaiar, para compor ou (e principalmente) para tocar num show. Eu não sei se vivo sem eles - lembro que um mês na França sem ambos me deixou quase maluco... Mas sei lá. Há coisas e pessoas que chegam com uma força que não dá para medir, você só sabe que é pra sempre. Mais pra sempre que outras coisas. 

Nunca precisei lidar com essa escolha ou verbalizar isso. Não é como se eu fosse parar de tocar violino, nada disso vai mudar.  A questão é que nunca enfrentei minhas preferências até sentir, pela primeira vez, a vontade de ter uma tattoo que representasse quem eu sou musicalmente, que retratasse parte de mim sem vergonhas ou remorsos. Acho que depois de ontem minha preferência está muito clara e é pra sempre.

E eu nunca mais vou precisar responder tal pergunta, pelo menos não depois de explicar que o que carrego no antebraço pro resto da vida não é uma maçaneta qualquer.

Vielisticamente,

Rique

3 comentários:

  1. Olá Rique. Parabéns pelo blog! Sou um admirador da Viela e pretendo iniciar na prática do instrumento. Façø parte do Grupo Sertanília que faz uma música baseada nas tradições ancestrais do Sertão e que tem muita influência da música galego-portuguesa. Estou planejando uma viagem ao Rio e gostaria de conhecê-lo e ter mais informações sobre a viela no Brasil. Voce poderia me passar seu email? o meu e andersoncunha.musica@gmail.com.
    O site do meu grupo é www.sertanilia.com.br
    forte abraço
    Anderson Cunha

    ResponderExcluir
  2. Oi Rique. Achei seu site quando procurava ler mais sobre a viela. Muito me encanta o som desse instrumento, não tem como não ser levado para séculos atrás com a sonoridade dele. Enfim, fico contente em ver que há gente no Brasil que toca a viela, imagino que não seja simples adquirir uma, nem deve ter como comprar uma aqui. Sou cantora lírica, uma apaixonada por música assim como você e quem visita seu site.
    Muito sucesso para você e seu grupo!
    Saudações musicais,
    Tatiana

    ResponderExcluir
  3. Oi, Tatiana. Obrigado pelo comentário. É sempre bom ver pessoas chegando à viela de roda. Nos links à direita do blog existem sites para diversos luthiers, vale a pena dar uma olhada. Qualquer coisa, estamos aí; =)

    rique

    ResponderExcluir