sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

2013 com o pé na porta


Quando eu idealizei sair do Brasil para buscar minha viela de roda, tudo o que já havia vivido no meu caminho musical parecia menor ou menos importante. É claro que só eu enxergava minhas aspirações com verdadeira paixão. Aliás, algumas pessoas conseguiram fazer com que eu me afastasse delas deliberadamente por conta de suas atitudes diante do meu sonho. Eu realmente acredito que devemos proteger e lutar por aquilo que desejamos. Veja bem, não me refiro a pequenas vontades e caprichos. Me refiro a algo que você deseje de verdade, com toda a sua alma. Poucas coisas na vida me despertaram o que essa minha obsessão pela viela de roda despertou. Muita gente ouvia eu falar dos meus planos e simplesmente me ignorava, talvez por serem educadas de mais para rirem na minha cara ou apenas por não saberem reagir diante de certos discursos que talvez soem muito rebuscados ou ingênuos de mais. Amigos, ingenuidade (para não dizer burrice) é desistir de sonhos. Fiquem sempre atentos às pessoas com quem vocês partilham seus desejos sinceros. Aqueles que nos ouvem e nos encorajam, estes sim merecem ouvir nossas melodias.

Bem, todo esse papo pseudo-xuxa-contra-o-baixo-astral é para dizer que se sair do Brasil por nove dias para pegar minha viela em Gales e de quebra tocar com minha banda na Irlanda (o festival era o evento principal, mas não para mim, entendam rs) já soava como um conto de fadas, passar um mês na França estudando viela de roda com um grande nome da viela naquele país me deixa sem palavras. 2013 vai ser isso: quebrar corda, remendar com outra, dosar algodão e resina para atingir um som perfeito em todas as oitavas, quebrando a cara, sim, na maioria das vezes. Mas dessa vez com mais experiência, tendo visto de perto alguns desses desafios que vão me acompanhar pro resto da vida.

"Captain Corageous" (1937)
Esse post não é só um desejo de um novo ano repleto de sucesso. É também uma pequena homenagem a todos aqueles que um dia foram tocados pela viela de roda e decidiram ir atrás da mesma, aceitando o que que ela trouxesse. Esse instrumento parece estar sempre mudando as vidas de quem o acolhe, como ocorreu com o famoso luthier inglês Chris Eaton, que deicidiu tocar o instrumento após vê-lo num filme. Isso é muito mágico, e ao contrário do que vivi com o violino, os vielistas realmente gostam de se ajudar. Foi assim com Chris Allen, que conseguiu me esperar por dois anos sem se desfazer da viela que escolhi, foi assim com um número de  vielistas a quem pedi indicações de professores na França; e foi assim com Laurent Bitaud, com quem terei o inenarrável prazer de estudar nas próximas semanas. Com um jeito de escrever todo dele e muita humildade, este gentil senhor se mostrou completamente aberto a me receber em seu lar para levar meu sonho a um nível que eu nunca nem havia cogitado.

Laurent Bitaud e um de seus últimos espetáculos em 2012
Apesar de trabalhar atualmente como professor titular de viela de roda na École Nationale de Musique e Danse, em Bourges, Laurent é mais um desses caras que vivia uma vida completamente diferente antes de se deparar com esse instrumento magnífico que é a viela de roda e ter seu rumo drasticamente alterado. Mesmo com um diploma superior em engenharia e um curso técnico em mecânica, foi seu envolvimento com um grupo de música e teatro infantil - fora o estudo da música - que despertou sua verdadeira paixão o levou de vez por este caminho. Pesquisador atento e minucioso, Laurent Bitaud tem seu nome ligado a uma série de ensembles musicais. Sua  dedicação tem sido desde então incontestavelmente grande, a ponto de seu nome estar relacionado a coisas como a segunda turma de vielas de roda numa escola de música em território francês, em Vierzon, em 1980; e diversos trabalhos dirigidos e idealizados por ele, sempre bem recebidos pela crítica devido à pesquisa histórica/folclórica por trás dos mesmos.

Para mim, tudo isso vai muito além de um sonho. Essa experiência, há dois anos atrás, soaria ridícula de impossível até mesmo para mim. Eu só tenho a agradecer pela força e amor incondicionais da minha família, que não mede esforços para alimentar meus sonhos. E àqueles que sempre me apoiaram nessa grande e atemporal aventura que se chama viela de roda, seja me perguntando como vão os estudos, seja apenas passando por aqui e lendo um post ou outro. São essas pequenas grandes coisas que fazem tudo (o calor, a dificuldade de atingir a afinação no verão, as cordas quebradas, as torcidas de nariz quando alguém não muito fã dessas sonoridades me ouve rs...) valer a pena. Obrigado.

Volto em alguns dias com novidades.

Que eu possa retribuir tudo isso, algum dia, de alguma forma.

Feliz 2013 a todos!

Vielisticamente (créditos ao tio Bitaud por essa saudação ÉPICA! ;-)),

Rique


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