terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Vielas em Villebon-sur-Yvette


Finalement, la France!

Estou aqui desde sexta-feira e a correria dos primeiros dias foi surreal. Corri atrás do que tinha que correr e ainda achei tempo para me divertir como podia. Antes de mais nada, tratei de voar numa loja que atende muito bem ao público do mundo folk, a Arpèges, aqui em Paris. Fui lá com minhas expectativas bem mornas, apenas buscando meu petit bourdon quebrado pelo tirano verão carioca; e qual não foi minha surpresa ao me deparar com um estojo rígido para vielas abauladas como a minha? Sonho! Morri numa graninha, mas valeu muito a pena, já que pude me preparar para a primeira aventura vielística em terras francófonas: a jornada de viela de roda em Villebon-sur-Yvette (tradução livre).

Este evento discreto e tranquilo nada mais é que um encontro onde alunos do meu professor aqui na França, o Laurent Bitaud, passam o dia inteiro trabalhando e revisando a técnica e a interpretação das peças estudadas no último ano. Como Villebon-sur-Yvette é uma cidadezinha - INHA - meio que distante de Paris, tive que enfrentar o sistema de metrô/trem que cobre a região de Île-de-France, que é relativamente complexa e cheia de baldiações.  Decidi contar com minha constante distração e voilá, me programei para sair mais cedo que o esperado. Tão mais cedo que...

Atrasado, só que MUITO ao contrário.

Erm... Cheguei na estação às 7:10, tendo duas longas horas à minha frente num delicioso clima de 2 graus. Ainda pensei em ligar para o Laurent, mas sei lá. Acordar um senhor francês cedo desse jeito não deve ser legal. Aliás, acordar qualquer pessoa desse jeito não É legal, então relaxei, li, escrevi e claro, tirei fotos até ser reconhecido pela Brigitte, esposa do Laurent. Ela chegou acompanhada de duas pessoas as quais eu amei conhecer: Michel Marc e Elisabeth Beduchaud, ambos parte da associação Chantevielle com Laurent, promovendo eventos temáticos riquíssimos em termos de pesquisa histórica e manutenção da tradição folclórica da França central.

Da estação, onde fui muito bem recebido, partimos ao charmoso conservatório de Villebon, onde nos acomodamos em uma sala super aconchegante, com direito a claraboias e harpas e partituras. O ambiente era ótimo; e apesar de um certo clima que fica no ar quando alguém estranho chega num grupo há muito fechado, todos foram muito gentis comigo. Os olhares curiosos eram bem engraçados. Provavelmente me considerando louco de despencar do Brasil para ficar aqui girando manivelas...


Vielles em Villebon
Como a proposta do encontro era dar um up nas peças que eles já haviam preparado (pelo o que entendi estão com algumas apresentações em vista), tudo o que eu pude fazer foi tentar tocar tudo de ouvido ler as partituras e me virar com algumas explicações do Laurent vez ou outra. Ainda assim, a manhã foi ótima e passou voando. Estar numa sala cheia de vielas de roda em que seus respectivos donos agem como se estivessem numa roda de violão é... Bem bizarro, essa é a verdade.
Mas o mais curioso ainda estava por vir: almoçamos na casa dos Beduchauds; e foi um verdadeiro evento. Fiquei boquiaberto porque vejam bem, eu aguardava um cafézinho na cafeteria do conservatório, ou algum prato básico numa lanchonete próxima a nós, não um verdadeiro e tradicional almoço dominical de uma típica família francesa: primeiro serviram cestas de baguetes com algumas pastas feitas de carne de porco e ganso, caçados e abatidos (!) pelo marido de umas das senhoras da turma. Quando pensei que aquilo ali seria nosso lanche e que justamente por isso toda aquela mesa era um exagero, serviram chucrute e salsichas. Comi um pouquinho só de salsicha, já bastante cheio... Para depois ainda aguentar bravamente uma rodada de queijos e mais pães, dessa vez com uma massa mais caseira, seguidos por, vejam só: duas galettes de rois, tortas à base de manteiga e amêndoas que carrega uma pequena estátua de um rei, título cedido (com direito a uma coroa!) a quem pegar o pedaço premiado. A galette é um prato super tradicional aqui na França, então fiquei todo bobo porque já havia lido sobre isso e não esperava vivenciar nada do tipo. ;-)
Galette des Rois
  Não preciso nem dizer que o resto da jornada pós-almoço não rendeu tanto, certo? O sono nesse frio daqui é quase irresistível, ainda mais com a barriga cheia de queijos e pães... Mas ainda assim, a atmosfera se manteve, e dá-lhe prática da mão direita em valsas, polkas e outras danças. O Laurent gentilmente me cedeu todas as partituras da jornada, então já tenho trabalho pela frente... Tanto que nem sei por onde começar.

E agora é isso aí, estudar e esperar minha primeira aula particular no conservatório de Bourges.


Allons-y!

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