quinta-feira, 3 de maio de 2012

A Saga da Viela - Parte II (ou como descobrir, da pior maneira possível, que não existem gurdies disponíveis)

Imagem por Blunderland

Estados Unidos, Inglaterra, França, Gales, Alemanha, Hungria e Argentina: estes são os países dos luthiers para os quais escrevi quando minha incessante (e vamos ser sinceros, alucinada  e épica) busca por um hurdy-gurdy começou.

A ideia por trás disso tudo é muito simples: quer ver um louco agir naturalmente de forma louca? Dê corda.

Eu já fazia parte de duas bandas, sendo uma de música tradicional Irlandesa. Para mim, que sempre fiquei forever alone em meu mundinho - mesmo na outra banda - conhecer outras pessoas que soubessem o significado de coisas como tune, bodhrán, bothy band e jig era algo realmente que não cabia em palavras. A sensação que eu tinha era de sermos as únicas pessoas no mundo a amar certas sonoridades. Era um mundo que eu já amava há muito tempo se abrindo muito mais diante de meus olhos, como quando você reencontra alguém que você ama muito depois de meses e vê que quase nada mudou, acolhendo feliz da vida as várias novidades que descobre sobre ela. No meu caso as novidades eram estupendas. Assim como eu trazia minha humilde bagagem, as pessoas que eu ia conhecendo me traziam mais informações e me acrescentavam muito - MUITO - musicalmente. Mais artistas, mais tunes, mais inspiração.

Como o interesse geral de meus companheiros de banda (e de vários de nossos amigos) vai bem além das terras verdes da Irlanda, a deliciosa exposição a bandas ditas "inusitadas" do mundo folk (bem como ao hurdy-gurdy) era inevitável.

Foi numa noite bem aleatória  - dia 22 de outubro de 2009, me lembro como se fosse hoje de manhã - que as coisas começaram a tomar forma para a viela, ou melhor, para mim, no caso. Eu estava muito preocupado com o ritmo que ambas as bandas estavam levando devido ao fato de meu violino elétrico, que me foi dado há quase dez anos pelo meu já falecido avô e padrinho, apresentar alguns problemas de captação que estavam atrapalhando meu desempenho e mobilidade no palco.

Após uma conversa extremamente cara de pau calma e bem pé no chão, meu pai resolveu me ajudar e me poupar de juntar 80 anos do meu então pobre dinheiro de estagiário para pagar um violino novo. Uma graninha extra estava para sair e a ideia era esperarmos um pouquinho para depois, com calma, comprarmos um violino elétrico bom. Que durasse vidas. 

Pronto. O destino estava drasticamente traçado! Este simpático e inofensivo a gente dá um jeito, filho foi o suficiente. Bastou eu voltar para o meu quarto e sentar em frente ao PC que do nada - e eu digo isso da forma mais literal possível - me veio à mente a pergunta: e se eu comprasse um hurdy-gurdy?

Depois disso, obviamente, só me lembro de sofrer por anos ficar horas e mais horas navegando noite a dentro. Eis que começa a saga pra valer: um mar de imagens salvas, um interminável looping de videos no youtube, leituras interessantíssimas, coisas inimagináveis (algodão nas cordas?! hein?!) e a recém-chegada (mas concreta como uma parede) indignação a respeito de eu nunca ter pensado naquilo antes. Pior ainda! Que tipo de mundo era aquele em que eu existia sem tocar uma viela de roda? Só a ideia de ter a ajuda de meus pais para comprar um novo instrumento me enchia de euforia. Eu já me sentia um vielista super bem sucedido (e veja bem, em menos de vinte minutos a errata do acordo com meu pai já havia saído e o termo "violino" já havia gentilmente cedido seu lugar ao termo "um-outro-instrumento-que-você-não-conhece-um-com-uma-manivela") quando a primeira resposta ao meu e-mail chegou. Pronto, foi mais fácil do que pensei [insira aqui sua cena do Rique 2012 rindo muito do Rique 2009], eu pensei antes de soltar o  "quê?!" mais revoltado da minha vida,

"Dear Henrique, I am terribly sorry but unfortunately..."

And so the drama begins...


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